quinta-feira, 7 de junho de 2018

Ceticismo x forçar a barra - o difícil desafio de não estacionar em nenhum dos dois

Chega um momento, após estar solteira há um certo tempo, que a gente começa a perceber que o ceticismo tomou conta do nosso coração. Já perdemos a capacidade de acreditar que alguém pode gostar da gente pelo que somos de verdade, que alguém possa se abrir para te conhecer ou até mesmo que possa existir alguém sincero em meio a tanta falsidade, mentiras e futilidades.

Também começamos a questionar até que ponto esse ceticismo está disfarçando uma possível auto-sabotagem e esse é um momento crucial e perigoso. Atrás de uma negação, de não conseguir conceber que nos fechamos tanto para as possibilidades, começamos a querer forçar relacionamentos, interesses, e fingir coisas que não sentimentos para de repente nos convencer de que temos sim a capacidade de nos abrir.

Considero perigoso porque podemos cair na armadilha de achar que qualquer pessoa que seja menos pior ou boazinha ou sincera é o suficiente para nós.

Afinal, o que é necessário para construir um sentimento? Um relacionamento de verdade?

Já fiz isso algumas vezes na minha vida, mas confesso que agora com esse tempo recorde solteira, a tentação é ainda maior. Ainda bem que a maturidade também é e por isso é mais fácil identificar quando você está tentando enfiar o pé em um sapato muito apertado.

Cansei de perceber que alguns caras que não tinham nada a ver comigo tinham interesse nesse meu jeito espevitado (talvez pela curiosidade do diferente!), e me aproveitar disso para seduzir o cara. Não era por mal, nunca foi. Era sempre pensando: esse cara é bacana. Gente boa, inteligente, do bem, trata bem as mulheres. Vou me envolver com ele, preciso dar chance para pessoas assim.

Daí começava a ficar com pessoas que tinham zero afinidades comigo: super nerds, meninos caseiros demais, pessoas que não gostavam de viajar, caras passivos e até mesmo acomodados, e por aí vai. Pessoas que acabavam sendo overpowered pela minha personalidade. Eu achava que estava apaixonada - às vezes até estava pela ideia que tinha construído do cara -, quando de repente vinha aquela avalanche de percepções. "Esse cara não tem nada a ver com você", "Vocês não tem afinidades", "Nem o beijo encaixa direito", "Você mal tem tesão por ele", "Que admiração você tem por uma pessoa dessa?" e a lista não parava de crescer.

Até que eu não aguentava mais e pegava ranço da cara do sujeito. A situação ficava insustentável, eu não conseguia nem sequer olhar nos olhos da pessoa. Algumas vezes chegava a maltratar alguém que gostava de mim porque não conseguia controlar minha falta de interesse e paciência. Muitas vezes insistia, lá tava eu enfiando o pé no maldito sapato apertado, me enganando com frases como "é só uma fase", "isso vai passar", "não vai jogar um homem que gosta tanto de você fora". É claro que isso sempre acabava em eu dando um pé na bunda do cara, ele se perguntando "onde foi que eu errei?" e eu me sentindo a pior pessoa do mundo depois.

Estou me colocando de forma super vulnerável aqui para vocês. Depois do meu último namoro, até terapia fui procurar porque não conseguia entender o meu comportamento. Por que tenho tanta dificuldade em manter meus relacionamentos com esses caras tão "maravilhosos"? Qual é o meu problema, afinal?

Hoje consigo compreender que não adianta a gente forçar a barra com coisas que não nos pegam no coração de verdade. Ele pode ser o cara bacana que for, mas se não bater, se não der liga, se não tiver aquela afinidade gostosa, admiração e tesão, NÃO É PARA VOCÊ!

Mesmo quem gosta de ser solteira, tem seus muitos momentos de solidão e pensa: "será que vou ficar sozinha para sempre?". Esse medinho do futuro (não que tenha algum problema em estar sozinha!) às vezes nos faz fingir coisas só para não estar sozinha. Quantas amigas em relacionamentos infelizes eu ouvi dizer: "mas Dany, se eu termino com ele, vou ficar sozinha pra sempre! A coisa está feia!". Será possível que chegou-se ao ponto de acreditar que é melhor fingir ser feliz e estar morrendo por dentro do que aprender a gostar da sua própria companhia e se respeitar? Acreditamos de fato nessa balela toda de que só há uma fórmula para ser feliz e ela necessariamente inclui estar em um relacionamento amoroso?

O desafio é: sim, nos abrir para possibilidades, pessoas novas, coisas diferentes, mas ter a sensibilidade de perceber que se abrir não é a única coisa que falta para encontrarmos alguém especial. Existem vários caras bacanas que não vão se encaixar com você, com seus princípios, com seus gostos, com suas crenças e isso não faz deles (ou de você!) menos especial. Apenas não era seu número. AND THAT'S OKAY! A gente lamenta, parte pra próxima... e quem sabe qualquer dia o sapato entra no pé, bem confortável? E se não... oras... vamos andar com os pés descalços na areia, que cá entre nós, também é uma delícia!

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