sábado, 3 de março de 2018

A sexualização das profissões

Outro dia estávamos eu e minhas amigas professoras comentando sobre como os homens sexualizam a nossa profissão. Uma amiga chegou furiosa contando que tem se irritado com vários homens - inclusive professores! - se referindo a ela como professorinha ("faltam pouco lamber os beiços", dizia ela), dizendo frases como "na minha época não existiam professoras de matemática desse jeito". Daí começamos aquela troca de experiências sem fim.

Ir para balada, conhecer alguém e dizer que é professora de inglês é sempre um convite para frases como "Se eu tivesse uma professora como você, eu não ia conseguir prestar atenção na aula" ou "Que dia você vai me dar umas aulas particulares?" e por aí vai. Oras, todos sabemos que conhecimento é afrodisíaco e que quando admiramos a inteligência de uma pessoa (e teoricamente professores são inteligentes), podemos nos sentir atraídos. Muitas profissões são fetiches para as pessoas, até aí não vejo nada de errado, até porque não gosto de me meter na sexualidade das pessoas, mas essa sexualização da profissão professor pode acabar por ultrapassar os limites do aceitável.

Quando você faz esse tipo de discurso, você acaba por trazer uma série de implicações que podem ofender as pessoas, como por exemplo insinuar que algum aluno está aquém do rendimento escolar por ter uma professora gostosa ou insinuar que matemática é muito difícil, portanto apenas mulheres feias (e poucas mulheres) são capazes de entender; mulher bonita costuma ser burra, portanto é surpreendente que uma mulher bonita seja professora de matemática. É a tal padronização da mulher pelo patriarcado: mulheres bonitas são fúteis e burras. Enquanto você me questiona aí do outro lado, dizendo que eu estou viajando, forçando a barra, responda essa pergunta: "Você acha que alguma Panicat é inteligente?". Guarde a resposta no seu coração e reflita.

Não só a profissão de professora sofre essa sexualização, mas pensei aqui em mais duas que também são pesadamente sexualizadas: enfermeiras e comissárias de bordo (aeromoças).

A profissão de enfermeira é sexualizada desde que o mundo é mundo. Se você vai a uma loja de fantasia procurar uma fantasia de enfermeira, você nunca vai encontrar uma fantasia normal, roupa branca, os acessórios e afins. Vai sempre ser uma lingerie transparente, um top mega decotado ou uma saia mostrando a popa da bunda porque afinal, toda enfermeira é safada, vai trabalhar semi-nua e sua principal função é dar banho nos pacientes. Oi? Você está aí pensando de novo que eu estou viajando, não é? Então faz o seguinte: joga a palavra "enfermeira" no Google Imagens. Guarde no seu coração e reflita. Como análise adicional, homem que é enfermeiro é gay, viu? Isso não é coisa de hetero. Homens de verdade são médicos, não enfermeiros. (Atenção para alta dose de sarcasmo!)



Na tirinha, episódio de FRIENDS em que uma namorada do Ross resolve ir de enfermeira e o Chandler já associa com safadeza.

- O Joey vai ficar muito feliz! Ele estava torcendo para você vir de enfermeira safada.
- Na verdade, sou apenas uma enfermeira.



E as comissárias... ah, as comissárias! Como não amá-las? Sempre impecavelmente penteadas, maquiadas, vestidas e aquele sorriso branco no rosto! Quantos filmes, videoclipes e afins nós vimos sobre o quanto elas são sexy e como elas dormem com todos os pilotos da companhia aérea e por isso chegaram onde chegaram? Hoje em dia temos visto um movimento maior de homens na profissão, mas encontramos o mesmo preconceito dos enfermeiros: os homens macho-alfa são os pilotos. Comissário homem é tudo viado. (mais dose de sarcasmo por aqui). Para ilustrar o a problemática: em um episódio de Sex and The City, a personagem Miranda,, advogada bem-sucedida, vai a um evento chamado Speed Dating, onde cada pessoa tem 7 mini-encontros de 8 minutos. Toda vez que ela diz ser advogada, os homens não tem interesse. Pra testar uma teoria, ela diz que é aeromoça no último e o rapaz fica todo animado. Eis a cena no link abaixo (sem legenda):

www.youtube.com/watch?v=lU7alwkLuE8 (por algum motivo o Blogger não tá postando o link, então tá aí o endereço da cena para você colar no seu browser)

Para finalizar: o que estou querendo dizer com tudo isso é que precisamos tomar mais cuidado ao transformar certas profissões em fetiche. Aquele cuidado para não acabar diminuindo a importância do trabalho de uma pessoa, de reduzir a luta, o talento, a inteligência de alguém por exagerar na sexualização de tudo, especialmente das mulheres. Aquele toque amigo da blogueira! ;)