quinta-feira, 26 de junho de 2014

Miss professorinha

A profissão de professor é uma das profissões mais desvalorizadas do Brasil. Apesar de ser a mais importante - pois sem ela, as outras não existiriam!! -, os professores recebem um salário ridículo, condições de trabalho nem sempre favoráveis, plano de carreira bem mequetrefe e ainda tem que aguentar aluno revoltadinho que não tem consciência de que o papel dele mesmo é tão importante quanto o do professor no processo de aprendizagem.

Dito tudo isso, é interessante observar uma controvérsia da vida de professor: o status sexual que essa profissão tem. Está sacramentado: a inteligência (e o poder do conhecimento) é um afrodisíaco poderoso. Afinal, quem nunca teve uma quedinha por algum professor??

Nessa minha vida de 6 anos dando aulas de inglês, já passei por vários percalços, vamos dizer. Os alunos se "apaixonam" por você DO NADA. Você vira a musa inspiradora da vontade deles de falar inglês como você. Falar outra língua já é atraente por si só; quando você ensina, parece que junta a fome com a vontade de comer.

Uma vez tive um aluno que tinha idade para ser meu avô. Ele me trazia presentes a cada 15 dias. Caixas de bombons importados, souvenirs de viagens, presentes com tema inglês ou estado-unidense, todo tipo de coisa. Sem contar com os comentários desnecessários em alto e bom som, na frente de todo o resto da turma, que não só me deixava super sem graça, mas também os outros alunos extremamente constrangidos com a falta de noção do carinha. Além de o cara ter idade para seu meu avô, era casado. Ele dava em cima de mim deliberadamente. Achei que seria de bom tom dar um corte. O problema é que fica difícil dar um corte sem parecer arrogante e sem deixar que isso influencie em seu rendimento em sala de aula. Portanto, o meu corte foi bem sutil: eu apenas parei de aceitar os presentes. Um dia ele me trouxe uma caixa de bombons de licor de cereja (adoro!) da Lindt e eu neguei. Disse que não poderia mais aceitar os presentes porque estava ficando muito constrangida. Ele insistiu, mas eu insisti mais. Então ele entendeu o recado. De vez em quando ainda soltava uns comentários inapropriados, mas eu mudava de assunto imediatamente para que ele compreendesse que eu não me sentia à vontade com aquele comportamento.

Apesar de desconfortável, esse era relativamente fácil de se livrar. Ele tinha mais do triplo da minha idade, era casado, eu não tinha nenhum interesse nele. Pior é quando você se pega sendo assediada por um aluno que você ficaria facilmente se não estivesse no seu ambiente de trabalho. Um aluno lindo, simpático, inteligente e... CASADO!
Deus sabe o esforço que eu fiz. Dar mole para ele era inevitável, automático. Aquele sorriso acabava comigo. Um dia marcamos de sair juntos para uma cervejinha "inocente" eu, ele e uma outra professora da escola. Ela não pôde ir, em cima da hora, e eu chamei uma amiga para me acompanhar, porque a carne é fraca e eu não podia fazer nada do que fosse me arrepender. Ele era meu aluno e ainda por cima casado. Depois de umas cervejas, a dignidade se esconde, e atire a primeira pedra quem nunca fez besterias homéricas sob o efeito do álcool.

Fiquei mais de 6 meses sem dar aula e ontem voltei às salas de aula. Infelizmente, já na minha primeira turma, eu tinha um aluno só, um cara de uns 60 e todos anos, todo simpático e que me pediu para jamais chamá-lo de senhor. Ao término da aula, eu pedi para remarcarmos nossa aula de segunda-feira, pois eu tinha uma consulta médica. Ele me responde: "Eu odeio repor aula, mas você é uma excelente professora e muito bonita. Então eu abro essa exceção". Comentei com a coordenadora, e ela disse: "Ah, esqueci de te avisar que esse cara tem mania de dar em cima das professoras". Oh, céus. Pobre Danyzinha, mais uma maluco no pedaço.

Não vou ser hipócrita. Elogios são muito bem-vindos, especialmente em tempos de auto-estima baixa. Presentinhos de vez em quando, no aniversário ou dia do professor, não fazem mal a ninguém. O difícil é achar o limite. Essa coisa de misturar o pessoal com o profissional é muito perigoso. Numa situação como essas, você fica tão constrangida que até mesmo sua performance em sala de aula pode ser comprometida. O conselho que dou é: seja profissional, acima de tudo. Tenha coragem de impor sua autoridade em sala de aula, claro, sem exagerar na dose e soar arrogante. Se a situação estiver fora do seu controle, fale com a coordenação da escola - eles tem o dever de te apoiar e ajudar a resolver esse problema. Assédio sexual é crime. Ninguém tem o direito de te assediar em lugar nenhum, muito menos em seu ambiente de trabalho. Fora isso, curta pelo menos os seus 15 minutos de "fama" à frente de uma sala de aula, que te escuta atentamente e te admira. O reconhecimento (e a evolução dos alunos) é um dos únicos benefícios de ser professor. ENJOY - com moderação!

3 comentários:

Anônimo disse...

Arrasou!
(Line Dú)

Anônimo disse...

Dany,

o que acha da ação contrária: alunA dando em cima de professor??

Saudações,

Leo Vila

DanyZinha disse...

Oi, Leo!
Não é bem a situação contrária ne... Quando eu falo de fetiche com professor, eh independente do prof e do aluno serem homem ou mulher.
Eu acho inapropriado, especialmente dentro de sala de aula. A gente tem que separar as coisas.
Quando coordenei uma escola, uma profa e um aluno se envolveram e deu o maior rolo! Tinha fofoca, tinha reclamação quando o aluno ia mal em prova, era muito tenso. O aluno acabou saindo da escola e a professora se demitiu. Portanto, eu aconselho a segurar a onda se uma aluna der em cima de vc! Pelo menos até vc não ser mais prof dela e poder viver o romance, se quiser! hehehe
;)