segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

O esquerdomacho

Por conta do BBB do ano passado, onde pautas como o feminismo e o racismo foram assuntos em evidência entre os participantes e definiram toda a dinâmica do jogo, o BBB21 começou com uma pegada bem diferente. Esse debate já entrou com força desde o primeiro dia do programa e iniciou-se um perigoso jogo de cancelamento dentro da própria casa e um clima de bastante intolerância.

Dentro dessa temática, surge uma figura que eu ainda não tinha catalogado aqui no blog: o esquerdomacho. Representada principalmente na figura do Fiuk dentro da casa, o esquerdomacho é aquele homem que paga de desconstruidão, de apoiador de causas como feminismo e racismo, mas no fundo não passa de um macho escroto do mesmo naipe do hetero top que tanto criticamos. É um executor ferrenho de práticas como maninterrupting e mansplaining. É aquele que pede desculpa por ser homem e nos faz revirar os olhos num movimento de 360º.

Para começar, o Fiuk estragou expressões como "desconstrução", "reconhecer seus privilégios" e "lugar de fala". Está usando de forma leviana, querendo "converter" pessoas como se ele fosse o suprassumo entendedor das causas. 

Eu não estou aqui para cancelar ninguém. Eu acredito muito na aprendizagem, na evolução das pessoas - até porque, se não acreditasse, esse blog nem existiria, porque eu o vejo como uma ponte para aprender, não só uma chuva de críticas. Porém, o que falta para quem está aprendendo esse tipo de coisa, é ouvir mais e falar menos. Aprender é colocar em prática, muito mais do que arrotar lições de moral em qualquer pessoa que aparecer na sua frente. Na maioria dos casos, o cabra presta um serviço de muito mais qualidade se mantendo de boca fechada.

O Fiuk, por exemplo, nos primeiros dias de jogo, pareceu ser super sensato, aberto, acolhedor. Seu jeito carinhoso conquistou a paraibana Juliette, que logo começou a imaginar coisas românticas a seu respeito (chegando até a deixar o público impaciente com tamanha empolgação). Fiuk estava lidando  com o assunto de forma leve, mas agora, percebendo seu poder sobre a moça, usa de um tom arrogante e superior para falar com ela e dela (mas sempre com a fala bem mansa, repare), chegando a humilhá-la e fazendo-a sentir burra e não-autêntica. Esse é um dos comportamentos-chave de um esquerdomacho. Clica aí embaixo para conferir o ataque:


Fiuk praticou maninterrupting pesado com Carla Diaz (e tem feito isso com frequência) e já é conhecido na casa como um participante que não deixa ninguém falar. Depois de ter ido atrás dela para, supostamente, saber se estava bem e queria conversar, ficou debochando dela com outros participantes da casa. Também já vimos cenas onde ele "explica" para Carla seu lugar de privilégio num tom bastante presunçoso, fazendo-a sentir culpada por ter nascido branca e por ser uma artista bem-sucedida. Isso passa bem longe do objetivo de ensinar alguém a reconhecer seus privilégios. Reconhecer seus privilégios é um passo para que você use sua voz, que é ouvida, para ajudar quem não é ouvido (entre outras coisas, claro). Não deve ser uma ferramenta para fazer alguém que não tem culpa de ter nascido privilegiado se sentir mal por sua condição natural. Clica aí embaixo para conferir a palestrinha:


Li no Twitter (não vi essa cena) que as meninas estavam falando sobre tamanho de seios e o Fiuk chegou dizendo que corpo natural é lindo, que ele se amarra em seios pequenos e coisa e tal. Já falei aqui brevemente também sobre a mania que os homens tem de palpitar sobre nossos corpos. Com certeza ele achou que estava arrasando com esse comentário, já que a sociedade idolatra mulheres com seios grandes. Porém, mais uma vez, ele chega dando palpite em coisas que desconhece. Não experimenta da dor da pressão dos padrões estéticos sobre a mulher, dá opinião que não foi solicitada e palestra sobre assuntos que nunca lhe dirão respeito. Clássico esquerdomacho.

Fiuk é tão sem noção que soltou frases como "eu tive uma vida muito difícil", "ser pobre é uma delícia" e "não sabia que eu ia passar fome aqui", numa sala onde havia pessoas que cresceram na periferia, sem 1% das oportunidades que ele teve e possivelmente tendo algum que realmente tenha passado fome. Isso prova o quanto o discurso dele é incoerente com suas ações. Se tem uma coisa que ele não sabe ainda é reconhecer seus privilégios, embora não se acanhe em puxar cada participante da casa num canto e vomitar seu discurso decorado de livro. 

Portanto minha amiga, quando você conhecer um cara que paga de desconstruidão por aí, tome cuidado. Já fique de olho nesses sinais de alerta, porque se ele for um esquerdomacho, aparecem rapidinho. 

Para terminar, deixo esse vídeo sensacional da Ademara (uma influencer comediante de Pernambuco maravilhosa!) com uma ilustração do esquerdomacho clássico:



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