domingo, 19 de novembro de 2017

Quando tentar controlar tudo sabota sua felicidade

Em FRIENDS, Ross está em um relacionamento com outra pessoa quando descobre que Rachel também gosta dele. Para ajudar a decidir entre as duas, Ross faz uma lista de prós e contras. Ao descobrir, Rachel fica absolutamente magoada e diz: “Imagina as piores coisas que você pensa de si mesmo... agora imagina que a pessoa que você mais confia no mundo não só também pense as mesmas coisas que você, mas ainda use essas razões para não ficar contigo”.

Agora eu consigo entender o que a Rachel disse. Como é ruim ouvir da boca de uma pessoa que você gosta que o que você tanto temia que acontecesse, acabou acontecendo e te afastou dela. Suas maiores inseguranças superaram suas qualidades. Pior ainda é não conseguir ter a chance de mudar as coisas. Pior ainda é ficar martelando isso na cabeça sem parar, como se fosse um defeito que você jamais pudesse apagar. Como se fosse a razão pela qual todos os seus relacionamentos anteriores tenham afundado. Teria isso também atingido minhas amizades, minhas relações familiares? Ou seria essa a razão pela qual eu tenha se fechado tanto?

Que tristeza causa termos que tomar decisões que não queremos. Termos que nos afastar quando queremos ficar junto. Termos que fingir que tá tudo bem quando por dentro você está com um sentimento horrível de fracasso, de perda e você está numa interminável luta interna. Quando tudo o que você consegue pensar é “por que eu não consegui dar o melhor de mim para essa pessoa?” ou “por que eu deixei que minhas inseguranças estragassem tudo o que tinha de bom?”.

Disseram que tudo o que acontece em nossas vidas é porque provocamos ou permitimos. Provoquei isso ou permiti? O que seria pior? Teria sido o meu maior erro tentar controlar tudo? Tentar ter absoluto controle sobre sentimentos, pessoas, acontecimentos por causa do pavor de me machucar? Ter deixado medo e insegurança me engolirem? Até que ponto tentar se proteger acaba te fazendo sofrer ainda mais (“Tudo é dor – e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor”)? Seria adequado apenas deixar que as coisas que te incomodam ou ameaçam passem? É possível fazer com que essas coisas não tenham tanto impacto em nossa vida? Tivesse eu me comportado de outra forma, poderia ter mudado as coisas ou tudo está escrito na estrelas e nosso destino é imutável?

Às vezes queria me livrar desse excesso de intensidade. É incrível como ele vive me sabotando. Essa reatividade, essa insegurança, essa mania de querer controlar tudo, mas ao mesmo tempo a impossibilidade de fugir de viver as coisas por medo. Talvez fosse melhor não viver certas coisas. Porque sinto que vivo, mas vivo sempre tentando me defender de uma possível dor. E acabo sofrendo duas vezes.

Dói pensar que, quando tudo o que você almeja é ser luz, alegria e amor para as pessoas, alguém (e alguém muito importante para você) te descreve como um peso. Algo desconfortável e sem paz. Sem leveza. Algo que suga energia e que atordoa. Como limpar essa impressão? Como desfazer isso se não te dão chance de se redimir, de tentar melhorar? Me sinto condenada a conviver com esse fato me corroendo por dentro.

E ainda... toda a culpa desse fracasso é minha? Se tivesse a chance, daria para consertar tudo sozinha? Desistir? Me conformar?


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