sábado, 2 de fevereiro de 2019

Sobre levantar bandeiras e manter a coerência

Ontem tive uma conversa muito interessante com duas amigas e fiquei pensando muito nas bandeiras que levantamos. Estou dividida entre o que eu penso e o que elas sugeriram. Continuar levantando a bandeira e entender que ela não me imuniza de cair em ciladas que a vida às vezes nos prega ou não levantar tanto a bandeira para que, quando eu cair nessas tais ciladas, não me julgue tanto e nem deixe que as pessoas me julguem tanto também?

Esse blog é a minha maior bandeira. Através dele eu dei força para a voz das mulheres, para o empoderamento delas, para o direito de se comportarem como quiserem em suas próprias vidas. Ajudei a expor as coisas que nos incomodam no sexo oposto. Expus feridas da sociedade. Histórias de amor, histórias de horror, histórias de comédia. Tudo para levantar a bandeira do feminismo da melhor forma possível, aplicada às situações vividas por mim e pelas pessoas próximas a mim no dia-a-dia. E eu gostaria que as pessoas entendessem que falar de tudo isso, defender tanto essas ideias, não me torna imune a sofrer por amor. A cair na lábia de um mulherengo. A acabar reproduzindo algum comportamento ou fala machista sem querer. Acabei criando uma imagem de mulher forte auto-suficiente (as duas coisas não estão interligadas, por mais que possa parecer. Gostar da sua própria companhia não significa não querer ninguém na sua vida), eu percebo. As pessoas (e eu mesma) criaram certas expectativas em relação ao meu comportamento, especialmente quando se trata de relacionamentos.

No primeiro ano de blog, quando ainda éramos 5 mulheres escrevendo aqui, fizemos o concurso "Babaca do Ano". Um peguete meu venceu (empatado com o ex de uma das meninas). Alguns meses depois, eu apareci namorando com ele. Escrevi o post sobre o assunto, explicando o que tinha acontecido e como eu tinha me sentido. Mas o que mais me lembro sobre aquele post foi a quantidade de comentários me julgando, dizendo que eu falava tanto em não cair na lábia dos caras e acabei caindo.

A verdade é que bem mais fácil vir aqui e falar quando você não está apaixonada. Quando você consegue neutralizar o cara e perceber o veneno antes de se apaixonar. E eu sou boa nisso. Mas nem sempre isso acontece. E eu também, mesmo tendo conseguindo desviar de uma quantidade considerável de pessoas babacas, às vezes caio em tentação e me lasco. Quando estou apaixonada, algumas vezes nem eu consigo seguir meus próprios conselhos, também fico cega. E da última vez levou um tempão para enxergar o quanto eu estava me desvalorizando. E me machucando. Até que um dia eu consegui e caí fora.

Depois de muito refletir sobre o assunto, cheguei à conclusão de que essas bandeiras fazem parte de quem eu sou, da minha história, dos meus princípios. Eu tenho certeza que já ajudei muitas mulheres a se empoderar, a tomar coragem, a se amar mais, a entender que elas precisam primeiro ser felizes sozinhas, para depois serem felizes acompanhadas. Eu tenho certeza que já ajudei algum homem a melhorar seus comportamentos machistas e refletir mais sobre como anda tratando as mulheres por aí. Eu ter caído em tentação algumas vezes não invalida minha luta. Aliás, ela me lembra quem eu sou e no que acredito. E aí quando eu precisar sair dessas ciladas, eu acesso dentro de mim tudo o que eu preciso para tomar as rédeas da minha própria vida! Tenho uma amiga muito sábia que diz: o que conta é o que você faz 90% do tempo. E 90% do tempo eu consigo ser o que minha bandeira prega! Então, em 2019, nada de bandeira a meio mastro: quero essa linda lá no topo, brilhando no céu!