Em tempos de crise, utiliza-se métodos extremos para tentar colocar-se de volta ao mercado. A crise no Brasil é política, é econômica, e como não poderia ser diferente, acabou chegando aos relacionamentos e causando uma crise amorosa generalizada. Quando menos esperávamos, lá estávamos todos nós baixando e apagando o Tinder, o Happn e seus amigos.
Baixando e apagando porque esses aplicativos são uma eterna relação de amor e ódio. O negócio está tão ruim que sucumbimos à falta de bom senso e criamos alguma esperançazinha nos açougues humanos virtuais.
Acontece que a crise também chegou lá e, por causa dela, nós mulheres andamos nos divertindo muito com um novo hobby: entrar no Tinder, tirar print das zoeiras e compartilhar com as amigas, soltando todo aquele veneno que só um grupo de mulheres - solteiras, então...! - pode soltar.
Poderia passar o dia inteiro contando da criatividade dos caras, nas fotos e na descrição, comentando sobre homens que acham que o Tinder é o Catho e colocam logo o CV no perfil, pirralhos e coroas tentando se passar por homens de 30 anos, nudes não-solicitados de pessoas aleatórias, enfim, a lista de absurdos é infinita. Porém, essa semana já temos um vencedor. Para nós, apenas Dengoso.
Eis que uma amiga esses dias partilhou um print de uma conversa com um Match, onde o cara, que nunca havia falado um oi com ela, provoca o seguinte diálogo:
- Tá à toa?
- Tô na rua... por que?
- Posso te deixar dengosa??
- An? Com dengue? Kkkkkkk
É claro que ele não teve nem balls de continuar a conversar com a amiga zoeira e tocou a vida.
Num mundo ideal, ele teria se tocado do quão cafona esse papo é e mudaria de estratégia. However, nosso amigo breguete é insistente.
Dei match com um cara bem gato e a conversa começou tranquila. Aquele velho "onde você mora", "trabalha com o que", "é daqui?", blablabla, quando de repente...
- Gosta de homem dengoso?
- hahahaha Que?? Como assim?
- Ahhhh, sei lá, tô carente, precisando de um carinho, querendo um dengo...
- Ahhh, é isso? Sei lá, não sendo muito grudento, a gente até gosta.
- Mas... você é dengosa?!
WTF?! É você novamente, anão Dengoso?
Cara... Ele vai mesmo persistir no erro? Será que ele não tá vendo o quão creepy ele está soando com essa conversa esquisita?!
Pois é, é por essas e outras que a vida segue em crise em todos os segmentos e o Tinder, mais do que um app de pegação, virou a maior diversão do nosso cotidiano.
Que a gente possa qualquer dia desses ter uma conversa normal e decente com alguém e que não só o Tinder, mas o mundo como um todo, tenha menos dengosos nos assustando por aí.
quarta-feira, 8 de junho de 2016
segunda-feira, 6 de junho de 2016
33 contra 1
Desde que começamos a escrever esse blog, temos relatado os abusos a que temos que nos submeter por causa do machismo presente na nossa sociedade.
É claro que tratamos tudo com o maior bom humor do mundo, na maioria das vezes, tentando fazer todo mundo enxergar que não se deve tratar o outro como objeto descartável, julgar, entre outras coisas, na brincadeira.
Dentro da pauta do blog também falamos de sexo, de mulheres que também dão mancada - não é só homem, claro! -, e outros assuntos pertinentes que tenham a ver com relacionamentos em geral.
Acontece que o bom humor tem que ficar guardadinho no nosso coração quando escutamos que uma garota de 16 anos sofreu um estupro coletivo, onde 33 homens a violentaram e ainda por cima filmaram e espalharam o vídeo na web.
Não tem e nunca teve graça nenhuma falar de machismo, mas sempre escolhemos o approach mais leve. Acontece que uma situação grave dessa, pede uma abordagem agressiva.
A cultura do estupro, a qual tanto nos referimos e os homens têm absurda dificuldade de enxergar, está presente em TUDO. Em tudo? Em TUDO.
O machismo está arraigado em nossa cultura de uma forma que poucos conseguem ver com clareza.
Desde pequenos, na escola, quando tinha festinha, os meninos sempre levavam bebida e as meninas comida. Era assim SEMPRE, já para ensinar para as meninas que elas tinham que cozinhar.
As meninas ganhavam forninhos, panelinhas e cozinhas equipadas de brincadeira. A sociedade já mandava seu recado desde o infância.
"Você está exagerando!". Não, eu não estou.
Piadas que denigrem a imagem e inteligência da mulher, músicas que diminuem a mulher a objeto sexual ou dona de casa, novelas, livros, comerciais de TV e propaganda impressa, programas de televisão exaltando apenas o corpo da mulher e sexualizando todos os movimentos do feminino... Poderíamos passar dias enumerando as razões pelas quais a nossa sociedade é machista e patriarcal e porque temos que lutar contra isso diariamente.
A cultura do estupro é que te dá o direito de investigar o passado da vítima (e não do agressor), como se QUALQUER COISA que ela tivesse feito na vida justificasse tamanha barbaridade. A cultura do estupro é que permite que nós saiamos para alguma festa e os homens nos abordem colocando a mão na nossa perna, na nossa cintura, puxando nosso cabelo ou tentando nos agarrar à força. É ela que também dá ao nosso marido/namorado/peguete a falsa ideia de que eles podem transar conosco a qualquer momento e em qualquer lugar, desde que ELES queiram. É ela que dá a eles o "direito" de nos julgar pela roupa que vestimos, lugar que frequentamos, quantidade de parceiros, linguajar que utilizamos, maneira como dançamos etc. É ela que causa o enorme número de imagens de mulheres nuas trocadas diariamente nos celulares e e-mails dos homens. Através dela, vem o medo de andarmos sozinhas nas ruas, especialmente à noite, e também é só por ela que utilizamos a frase "Todo homem é um estuprador em potencial", que vocês homens tanto odeiam. O são porque tem o respaldo da sociedade patriarcal, por causa de situações como essa, onde o investigado é a vítima e não o estuprador. O são porque estupro não é apenas agarrar alguém pelos cabelos e levar pro mato para violentá-la. E é isso que vocês precisam entender.
Você é um dos 33 cada vez que você vê o seu amigo sendo agressivo com a namorada e acha normal. Você é um deles quando diz "mas também com essa roupa, né?". Você é um deles quando puxa o cabelo de uma gata na balada. Você é um deles quando divide mulher em "pra casar" e "pra comer". Você é um deles quando sua peguete está altamente bêbada e você transa com ela, que mal consegue reagir. Você é um deles quando é agressivo com sua namorada que não está a fim de transar hoje.
Você sabe o que é voltar tarde do trabalho e ficar com medo de qualquer pessoa andando atrás de você, não porque tem medo de ser roubada, mas porque tem medo de ser estuprada?
Você sabe o que é ter que receber imagem de Pênis de homens que você mal conhece pelas redes sociais?
Você sabe o que é ser xingada e empurrada quando diz um "não" para alguém numa festa?
Você sabe o que é querer colocar um batom vermelho e não ter coragem porque vão te achar com cara de puta?
Você sabe o que é ter que escolher uma roupa coberta no maior calor porque você vai estar sozinha com outro homem/homens e tem medo de ser assediada?
Você sabe o que é estar passeando na rua e mudar seu caminho só para evitar aquele grupo de homens logo ali na esquina porque não quer ser assediada?
Você sabe o que é ser estuprado e ter vergonha de falar porque muita gente não vai acreditar em você e questionar a sua moral e perguntar se você não mereceu aquilo?
Não. Você não sabe. Você nunca vai saber. Você não tem direito de dizer se alguém se ofendeu ou não com algo que você diz ou fez. Apenas peça desculpas e trabalhe o conceito de empatia.
Por favor, homens. Procurem entender mais nosso lado. Não somos histéricas, somos pessoas desesperadas lutando pela nossa liberdade total. A simples liberdade de ir e vir e ser como somos.
Esse direito vocês sempre tiveram. Se pudessem ficar um dia na pele de uma mulher, iriam se unir a nossa luta num instante. Portanto, façam esse exercício de se colocar no lugar do outro antes de falar absurdos que apenas vão te colocar no mesmo bolo dos 33.
É claro que tratamos tudo com o maior bom humor do mundo, na maioria das vezes, tentando fazer todo mundo enxergar que não se deve tratar o outro como objeto descartável, julgar, entre outras coisas, na brincadeira.
Dentro da pauta do blog também falamos de sexo, de mulheres que também dão mancada - não é só homem, claro! -, e outros assuntos pertinentes que tenham a ver com relacionamentos em geral.
Acontece que o bom humor tem que ficar guardadinho no nosso coração quando escutamos que uma garota de 16 anos sofreu um estupro coletivo, onde 33 homens a violentaram e ainda por cima filmaram e espalharam o vídeo na web.
Não tem e nunca teve graça nenhuma falar de machismo, mas sempre escolhemos o approach mais leve. Acontece que uma situação grave dessa, pede uma abordagem agressiva.
A cultura do estupro, a qual tanto nos referimos e os homens têm absurda dificuldade de enxergar, está presente em TUDO. Em tudo? Em TUDO.
O machismo está arraigado em nossa cultura de uma forma que poucos conseguem ver com clareza.
Desde pequenos, na escola, quando tinha festinha, os meninos sempre levavam bebida e as meninas comida. Era assim SEMPRE, já para ensinar para as meninas que elas tinham que cozinhar.
As meninas ganhavam forninhos, panelinhas e cozinhas equipadas de brincadeira. A sociedade já mandava seu recado desde o infância.
"Você está exagerando!". Não, eu não estou.
Piadas que denigrem a imagem e inteligência da mulher, músicas que diminuem a mulher a objeto sexual ou dona de casa, novelas, livros, comerciais de TV e propaganda impressa, programas de televisão exaltando apenas o corpo da mulher e sexualizando todos os movimentos do feminino... Poderíamos passar dias enumerando as razões pelas quais a nossa sociedade é machista e patriarcal e porque temos que lutar contra isso diariamente.
A cultura do estupro é que te dá o direito de investigar o passado da vítima (e não do agressor), como se QUALQUER COISA que ela tivesse feito na vida justificasse tamanha barbaridade. A cultura do estupro é que permite que nós saiamos para alguma festa e os homens nos abordem colocando a mão na nossa perna, na nossa cintura, puxando nosso cabelo ou tentando nos agarrar à força. É ela que também dá ao nosso marido/namorado/peguete a falsa ideia de que eles podem transar conosco a qualquer momento e em qualquer lugar, desde que ELES queiram. É ela que dá a eles o "direito" de nos julgar pela roupa que vestimos, lugar que frequentamos, quantidade de parceiros, linguajar que utilizamos, maneira como dançamos etc. É ela que causa o enorme número de imagens de mulheres nuas trocadas diariamente nos celulares e e-mails dos homens. Através dela, vem o medo de andarmos sozinhas nas ruas, especialmente à noite, e também é só por ela que utilizamos a frase "Todo homem é um estuprador em potencial", que vocês homens tanto odeiam. O são porque tem o respaldo da sociedade patriarcal, por causa de situações como essa, onde o investigado é a vítima e não o estuprador. O são porque estupro não é apenas agarrar alguém pelos cabelos e levar pro mato para violentá-la. E é isso que vocês precisam entender.
Você é um dos 33 cada vez que você vê o seu amigo sendo agressivo com a namorada e acha normal. Você é um deles quando diz "mas também com essa roupa, né?". Você é um deles quando puxa o cabelo de uma gata na balada. Você é um deles quando divide mulher em "pra casar" e "pra comer". Você é um deles quando sua peguete está altamente bêbada e você transa com ela, que mal consegue reagir. Você é um deles quando é agressivo com sua namorada que não está a fim de transar hoje.
Você sabe o que é voltar tarde do trabalho e ficar com medo de qualquer pessoa andando atrás de você, não porque tem medo de ser roubada, mas porque tem medo de ser estuprada?
Você sabe o que é ter que receber imagem de Pênis de homens que você mal conhece pelas redes sociais?
Você sabe o que é ser xingada e empurrada quando diz um "não" para alguém numa festa?
Você sabe o que é querer colocar um batom vermelho e não ter coragem porque vão te achar com cara de puta?
Você sabe o que é ter que escolher uma roupa coberta no maior calor porque você vai estar sozinha com outro homem/homens e tem medo de ser assediada?
Você sabe o que é estar passeando na rua e mudar seu caminho só para evitar aquele grupo de homens logo ali na esquina porque não quer ser assediada?
Você sabe o que é ser estuprado e ter vergonha de falar porque muita gente não vai acreditar em você e questionar a sua moral e perguntar se você não mereceu aquilo?
Não. Você não sabe. Você nunca vai saber. Você não tem direito de dizer se alguém se ofendeu ou não com algo que você diz ou fez. Apenas peça desculpas e trabalhe o conceito de empatia.
Por favor, homens. Procurem entender mais nosso lado. Não somos histéricas, somos pessoas desesperadas lutando pela nossa liberdade total. A simples liberdade de ir e vir e ser como somos.
Esse direito vocês sempre tiveram. Se pudessem ficar um dia na pele de uma mulher, iriam se unir a nossa luta num instante. Portanto, façam esse exercício de se colocar no lugar do outro antes de falar absurdos que apenas vão te colocar no mesmo bolo dos 33.
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