terça-feira, 3 de novembro de 2020

O dia em que legalizaram o estupro no Brasil

O dia em que legalizaram o estupro no Brasil - o vídeo


Hoje eu morri um pouquinho. Vivi para ver um juiz inocentar um estuprador mesmo cheio de provas. E isso me matou.

Fica até difícil colocar os sentimentos em palavras porque é um nível de revolta que nos deixa atônitas, sem ter mesmo como se expressar. 

Como se o nosso país já não fosse super perigoso para ser mulher, eles conseguiram deixar ainda pior. Levantaram a possibilidade de que é possível estuprar sem ter a intenção.

Ler a reportagem do "The Intercept" sobre o julgamento foi a mesma sensação de ficar de cabeça para baixo depois de ter comido muito. Náusea. Vontade de vomitar.

Como se costuma fazer por aqui, expuseram a vida da vítima. Mostraram fotos de seus trabalhos de modelo, com pouca roupa, fazendo poses sensuais. Questionaram sua integridade, sua moral, suas motivações. Disseram até que não gostariam "de ter uma filha do seu nível". Humilharam-na de todas as formas possíveis, com a permissão do juiz. O ás da justiça.

E aí, quando imaginava-se que não podia ficar pior... Emitiram a sentença por falta de provas, com a fundamentação de que não tinha como ele saber se a vítima estava em condições de reagir ou não e que não existe categoria culposa do crime de estupro de vulnerável; portanto, o crime não teria acontecido. Aos que não entendem, isso significa que o réu "não teve a intenção de estuprar". 

Agora me diga... como alguém não tem intenção de estuprar?! Ninguém transa com alguém à força sem querer. Isso é tão absurdo, tão ridículo, que parece até sem noção explicar. E por não existir esse crime previsto em lei, André Aranha, o estuprador, foi absolvido. MAS É CLARO QUE NÃO EXISTE ESSE CRIME EM LEI. Isso não existe! Não existe estupro não intencional! Existe uma sociedade bosta, misógina, imunda, QUE QUER NOS MATAR.

A partir de agora, quantos estupradores serão absolvidos sob a alegação de "estupro culposo"? Quantos advogados alegarão que seu cliente não teve a intenção de estuprar? O termo [estupro culposo], de fato, não foi utilizado como tal, mas a interpretação pode se dar dessa forma. Há muito mais escrito nas entrelinhas dessa sentença (e na forma como esse julgamento foi conduzido) do que apenas as palavras que podemos ler. Legalizaram o estupro no Brasil, minha gente. LEGALIZARAM o estupro no Brasil.

É pra combater essa cultura assassina que blogs como o meu existem. Para denunciar, para gritar nossas dores, para que eles saibam que não vão nos calar! Que por mais que passemos por coisas absurdas como essas, não passaremos caladas e passivas! 

Hoje, eu tenho dois pedidos para vocês:

1) Assinem a petição Abaixo-assinado por Mariana Ferrer

2) Compartilhem esse post com o máximo de mulheres que puderem (e homens que nos apoiam também, claro!)

Mexeu com uma, mexeu com todas! Vamos colocar a boca no trombone!


"O estado opressor é um macho estuprador."


PS: Após ler a sentença do juiz na íntegra, alterei algumas coisas do post. O estuprador foi, na verdade, condenado por "falta de provas" ou "provas fracas". Porém, na apelação o promotor cita a "falta de dolo", o que caracterizaria que ele acha que alguém pode estuprar sem ter a intenção.