segunda-feira, 22 de junho de 2020

VOCÊ tem direito sobre o MEU corpo?

Quando falamos por aí do desrespeito com o corpo da mulher, muitas pessoas têm a sua "opinião" sobre o que pode ser classificado como desrespeito ou não. Os homens tendem a relativizar essa coisa toda, pois cresceram em uma sociedade que os ensina que eles têm direito sobre nossos corpos. Não raramente passamos por situações constrangedoras como passarem a mão na nossa bunda, puxarem nosso cabelo, pedirem para nos conhecer já nos agarrando pela cintura, etc. Tudo isso parece besta, mas é uma tremenda violação da nossa individualidade.

E isso é só a ponta do iceberg, pois um cara que faz isso, que normalizou esse comportamento (que ele não aceitaria se fosse alguém fazendo com ele - principalmente se fosse outro homem), é capaz de fazer coisas muito piores.

Esse FDS escutei duas histórias que me fizeram refletir muito sobre como precisamos acabar com essa cultura escrota que nos expõe a tantas situações inaceitáveis.

A primeira história é de uma amiga que contou que conheceu um cara na balada. Eles ficaram e ela foi dormir na casa dele. No meio do ato sexual, ele aproveitou que ela estava de costas e tirou a camisinha, e ela só percebeu depois de um tempão.

A princípio, eu achei muito surreal, mas depois, pensando na linha toda da cultura, que acaba incentivando esse tipo de comportamento masculino, fiz um pequeno experimento. Perguntei num grupo com mais 4 amigas (sim, só 4) se já tinha acontecido isso com alguma delas. Dessa forma, eu teria uma noção se isso é uma prática recorrente entre os homens.

Prontamente uma delas disse que sim e relatou a seguinte história:

Ela estava ficando sério com um cara e a primeira vez que eles transaram, foi na loucura, dentro do carro, bêbados, e acabou rolando sem camisinha. Na segunda vez, ele veio querendo fazer sem de novo. Ela disse que não, que aquilo não aconteceria novamente, que foi um vacilo e que ela não queria mais assim. Ele insistiu, querendo fazer sem camisinha, mas ela não cedeu. Porém, no meio do sexo, ele aproveitou que ela estava de costas e tirou a camisinha sem informá-la.

Ao perceber, ela ficou muito chateada, confrontou-o e ele disse que "tirou porque estava incomodando". Ela pediu que ele a levasse para casa imediatamente. E sabe o pior disso tudo? Ela disse que se sentiu "suja, desprezada, um lixo" e morreu de chorar.

Gente, isso é errado de tantas formas diferentes! Como vocês homens não conseguem perceber a gravidade dessas atitudes?!

A primeira coisa que me choca é a falta de autocuidado. Não entendo como pessoas que têm a vida sexualmente ativa, principalmente sendo solteiros, não se preocupam com sua saúde sexual. Como vocês têm tanta certeza de que as pessoas que vocês ficam não tem doenças? Doença não tem cara, não, galera. Qualquer um pode contrair. Não dá para olhar para cara da pessoa e confiar que ela está limpa. Usar preservativo é cuidar de si mesmo, primeiramente. É claro que - não vamos ser hipócritas - às vezes a gente acaba deixando rolar sem camisinha, no calor do momento, mas isso deveria ser uma exceção, e não uma prática comum. É perigoso para todo mundo.

Segundo, o que aconteceu nessas histórias configura ABUSO SEXUAL. O consentimento foi COM camisinha. Se você ultrapassou essa linha, você violou a outra pessoa. SIM, isso também é uma forma de estupro. Estupro é sexo sem consentimento. Se ela não consentiu sem camisinha e você não respeitou, você estuprou. Parece que vocês têm dificuldade de compreender os limites! O seu direito acaba quando começa o do próximo. Se você não quer se proteger é problema seu, mas não tem direito de expor a outra pessoa a sua negligência.

As duas histórias tem antagonistas bem diferentes: um é um desconhecido de uma transa casual. O outro era alguém conhecido, fixo, no qual a minha amiga achou que poderia confiar. Isso mostra bem que não importa a relação que eles têm com a outra pessoa, eles se acham no direito de tomar decisões sobre os nossos corpos.

E por último, você desrespeita a pessoa como ser humano. O sexo é um ato conjunto, então tudo o que acontecer deve ser consentindo por todas as partes. Tirar a camisinha sem informar a outra pessoa é o cúmulo do menosprezo pelo outro. Você não se sentiria violado caso sua parceira fizesse algo sem o seu consentimento? Por que é tão complicado se colocar no lugar do outro? É só a sua vontade que conta?

E aí, além da exposição física ao perigo de uma doença sexualmente transmissível ou uma gravidez indesejada, surgem as consequências psicológicas. A primeira pessoa a me contar a história, relatou um sentimento de paranoia e extrema preocupação, que durou dias. A segunda relatou um sentimento de autodesprezo e desespero.

Mais uma vez, o egoísmo masculino nos traz consequências de atitudes que nem são nossas. Olha que absurdo: nós é que temos que lidar com as consequências das atitudes de vocês!

Essa postura é tão infantil, sabe? Vocês acham que a gente também não preferia transar sem camisinha? CLARO! Mas é uma questão de maturidade. De compreender que antes de qualquer coisa, vem a nossa saúde. Se você não concorda com isso, arranje alguém que pense como você, pois nós não temos a obrigação de lidar com suas decisões erradas. Você não pode obrigar uma outra pessoa a engolir as suas escolhas individuais contra a vontade dela. A única pessoa que tem lidar com as consequências das nossas atitudes somos nós mesmos.

GROW UP!

Já chega, machaiada! Vamos botar a mão na consciência!