segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O homem-gambá

Essa quarentena mexeu com nossas cabeças de um jeito que nem Freud explicaria. Em nome da carência, algumas pessoas aceitaram coisas que até Deus duvida. E é nesse espírito que venho contar a história da nossa heroína do dia. 

Eliane um dia foi visitar uma sobrinha e conheceu uma amiga dessa sobrinha, que disse ter um irmão para apresentar para ela. Gustavo, o tal irmão, adicionou Eliane no Instagram e assim começaram a se conhecer.

Tudo foi estranho desde o começo. Gustavo insistia para que Eliane o recebesse em sua casa e chegava a ser inconveniente com a insistência. Porém, como a carentena bateu forte, Eliane acabou cedendo um dia desses e o rapaz foi parar em seu apartamento. 

Era a primeira vez que se veriam, mas pelo jeito ele não se preocupou nem em tomar um banho. Chegou com aquele fedor de quem passou o dia todo na rua e isso já deixou Eliane bastante desanimada.

Ainda assim, a carentena não deixou de falar mais alto e quando menos esperava, ela estava na cama com um cara que gritava OHHHH a cada enfiada e que urrava feito um gorila na selva quando gozava; ela nunca se esforçou tanto na vida para não rir. 

Alguns dias depois, a carentena bateu novamente e Eliane deixou Gustavo fazer uma segunda visitinha. Dessa vez, ele se superou e trouxe, junto com o já conhecido cheirinho azedo de sovaco vencido, um chulé insuportável. O futum empesteou o apartamento, ela teve que arreganhar todas as janelas numa tentativa desesperada de se livrar do odor do bofe. A paciência estava no talo. Ele sentou-se no sofá e jogou as pernas por cima dela, prendendo sua circulação. Foi o fim. Dessa vez não teve carência que desse conta, Eliane teve que se livrar do homem-gambá.

Depois de alguns dias sem dar muita moral para ele, ela recebe uma mensagem dizendo:

- Você está estranha. Você deve ter algum problema. Você ainda pensa muito no seu ex, né?

- É, você tem razão. Penso MUITO no meu ex.

O mais bonito desse tipo de homem é que ele nunca acha que o problema é ele. É o que a gente sempre diz: a autoestima do homem hetero precisa ser estudada.

E pasmem, quando ela achou que havia passado por tudo o que tinha que passar com esse homem, ele comenta um de seus stories dizendo:

- Quero você com esse bocão aí!

Às vezes é melhor ficar na carência, galera. Vai por mim. Nada é tão ruim que não possa piorar. 

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*Todos os nomes desse post estão com nomes fictícios, como sempre fazemos nesse blog.

domingo, 20 de dezembro de 2020

Tratamento especial?

Esse ano passei por uma situação delicada que quanto mais eu analiso, menos eu entendo onde foi que as coisas se perderam.

A gente fala em não criar expectativas, mas a verdade é que tudo é bullshit. O ser humano é um criador nato de expectativas e com uma boa dose de encorajamento, a coisa tende a desandar de forma desgovernada. O resultado é quase sempre um coração partido e uma quantidade infinita de "por quês".

É claro que eu não entrei imaginando que ia dar tudo certo. Afinal de contas, quando você resolve se envolver com uma pessoa que terminou um namoro de mais de uma década há pouco tempo, você já sabe que a chance de se dar mal é grande.

Mas essa probabilidade significa nada quando você e a outra pessoa parecem estar conectados de uma forma inexplicavelmente boa. Quando tudo parece estar em sintonia, quando você finalmente encontrou aquele cara que atende todos os requisitos da sua check list dos sonhos, o resto se torna invisível.

O cara te trata como rainha. Te apresenta para os pais. Te busca no aeroporto quando você chega de viagem. Te manda mensagem todo dia. Vai atrás das suas amigas para saber se você está bem quando você demora a avisar que chegou em casa. Lembra que você sonhou com um chocolate e compra o tal chocolate para te dar de presente. Olha para você com carinho, e diz o quanto ele está feliz, de forma constante. Te lembra toda hora o quanto você é maravilhosa e o quanto traz luz para vida dele. Faz planos com você. Te coloca no grupo de whatsapp dos amigos dele. Dorme na sua casa todo FDS. Quem não vai criar expectativas? Quem vai lembrar que tem ex fresca na cabeça dele?

Os sinais começam a aparecer de leve, mas ele continua bom em te deixar tranquila e não ter medo de baixar a guarda. Você baixa.

E logo, logo toma um pé na bunda por mensagem. Como se isso fosse válido em qualquer situação. E com as palavras mais frias que nem parecem estar vindo daquela pessoa que te fazia se sentir tão bem e amada.

O problema é que tem uma categoria "nova" de caras babacas por aí: eles acham que tem que tratar toda mulher como se fosse a mais especial do mundo. Que isso é ser um cara decente, um bom moço. I'll tell you what... PAREM! 

Não confundam respeito, sinceridade, transparência com brincar com os sentimentos das pessoas. Vocês não precisam tratar toda mulher como a mais especial do mundo. Para ser considerado decente, só é necessário ser respeitoso e honesto. O resto já é alimentar um amor que você não pretende colher e isso é TÃO cruel! 

Cada vez que olho para trás, me pergunto se o que vivi foi verdadeiro de alguma forma e como pode ter sido tão insignificante para outra pessoa quando foi tão importante para mim. E não adianta ele dizer que "não é bem assim"; quando alguém não tem coragem de olhar nos seus olhos e explicar porque não pode mais estar com você, já é um atestado de que você não teve tanta importância assim. E dói. Para cacete. Quando as palavras não têm coerência com as atitudes, elas são irrelevantes.

Então, eu peço, rapazes... Tratem bem as pessoas com as quais vocês se relacionam. Isso significa ter respeito e ser honesto. Se não está preparado, se não tem intenção de se abrir, não alimente. Não transforme aquilo numa relação se realmente não quiser uma. Seja educado, mas não aja como se estivesse super envolvido se não estiver. O que te faz ser babaca não é querer ou não alguém, mas a forma como você lida com esse não querer, com seus sentimentos e os da outra pessoa. Tenham responsabilidade afetiva. Se recuperar da impressão de ter passado um tempão vivendo uma mentira é muito doloroso.

Honestidade sempre vale a pena. Seja honesto com você e com os outros.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

O dia em que legalizaram o estupro no Brasil

O dia em que legalizaram o estupro no Brasil - o vídeo


Hoje eu morri um pouquinho. Vivi para ver um juiz inocentar um estuprador mesmo cheio de provas. E isso me matou.

Fica até difícil colocar os sentimentos em palavras porque é um nível de revolta que nos deixa atônitas, sem ter mesmo como se expressar. 

Como se o nosso país já não fosse super perigoso para ser mulher, eles conseguiram deixar ainda pior. Levantaram a possibilidade de que é possível estuprar sem ter a intenção.

Ler a reportagem do "The Intercept" sobre o julgamento foi a mesma sensação de ficar de cabeça para baixo depois de ter comido muito. Náusea. Vontade de vomitar.

Como se costuma fazer por aqui, expuseram a vida da vítima. Mostraram fotos de seus trabalhos de modelo, com pouca roupa, fazendo poses sensuais. Questionaram sua integridade, sua moral, suas motivações. Disseram até que não gostariam "de ter uma filha do seu nível". Humilharam-na de todas as formas possíveis, com a permissão do juiz. O ás da justiça.

E aí, quando imaginava-se que não podia ficar pior... Emitiram a sentença por falta de provas, com a fundamentação de que não tinha como ele saber se a vítima estava em condições de reagir ou não e que não existe categoria culposa do crime de estupro de vulnerável; portanto, o crime não teria acontecido. Aos que não entendem, isso significa que o réu "não teve a intenção de estuprar". 

Agora me diga... como alguém não tem intenção de estuprar?! Ninguém transa com alguém à força sem querer. Isso é tão absurdo, tão ridículo, que parece até sem noção explicar. E por não existir esse crime previsto em lei, André Aranha, o estuprador, foi absolvido. MAS É CLARO QUE NÃO EXISTE ESSE CRIME EM LEI. Isso não existe! Não existe estupro não intencional! Existe uma sociedade bosta, misógina, imunda, QUE QUER NOS MATAR.

A partir de agora, quantos estupradores serão absolvidos sob a alegação de "estupro culposo"? Quantos advogados alegarão que seu cliente não teve a intenção de estuprar? O termo [estupro culposo], de fato, não foi utilizado como tal, mas a interpretação pode se dar dessa forma. Há muito mais escrito nas entrelinhas dessa sentença (e na forma como esse julgamento foi conduzido) do que apenas as palavras que podemos ler. Legalizaram o estupro no Brasil, minha gente. LEGALIZARAM o estupro no Brasil.

É pra combater essa cultura assassina que blogs como o meu existem. Para denunciar, para gritar nossas dores, para que eles saibam que não vão nos calar! Que por mais que passemos por coisas absurdas como essas, não passaremos caladas e passivas! 

Hoje, eu tenho dois pedidos para vocês:

1) Assinem a petição Abaixo-assinado por Mariana Ferrer

2) Compartilhem esse post com o máximo de mulheres que puderem (e homens que nos apoiam também, claro!)

Mexeu com uma, mexeu com todas! Vamos colocar a boca no trombone!


"O estado opressor é um macho estuprador."


PS: Após ler a sentença do juiz na íntegra, alterei algumas coisas do post. O estuprador foi, na verdade, condenado por "falta de provas" ou "provas fracas". Porém, na apelação o promotor cita a "falta de dolo", o que caracterizaria que ele acha que alguém pode estuprar sem ter a intenção.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Alerta: o novo "chat da Uol"

Olá, meus amores!

Hoje vim contar uma história engraçadinha, mas para falar de um assunto sério.

Às sextas-feiras, temos um grupo de amigos que joga online. Normalmente nosso primeiro jogo é GARTIC (é uma espécie de Imagem e Ação online). Você pode entrar em salas que são abertas ao público, e geralmente é isso o que fazemos. Com isso, muitas vezes entramos em salas que tem crianças e adolescentes. Foi o que aconteceu semana passada.

Estávamos lá jogando tranquilamente, até rindo das conversas infantis das meninas que estavam na sala, quando aparece um desenho de "cafuné" para um dos meninos do grupo desenhar. Após ele desenhar, uma das meninas o marcou no chat e disse que a amiga gostava de cafuné e pediu o Whatsapp dele

Achamos super engraçado, rimos muito, até zoamos, mas depois conversando mais sobre o assunto, percebemos o quanto isso poderia ser perigoso. Imagina se um pedófilo entra numa sala dessas e acaba atraindo uma dessas meninas? Elas tiveram sorte de encontrar um homem sem más intenções no caminho, mas dependendo da pessoa, essa história poderia ter tido um fim diferente, talvez até trágico.

Algumas alunas minhas (meninas de 12, 13 anos, como as meninas do jogo) já relataram terem sido abordadas por homens no Instagram, então isso não seria nenhuma novidade. O fascínio por homens mais velhos, o mistério por trás do desconhecido, a maturidade fake que parece vir junto com a adolescência: tudo isso pode ser a receita perfeita para um pedófilo em ação. Esse ano, inclusive, houve várias denúncias de pedofilia praticada por professores nas escolas. Eles se aproveitam de todos esses aspectos citados acima, e acabam envolvendo e seduzindo jovens desavisadas com brincadeirinhas, elogios e carinhos inapropriados.

Eu não sou a favor de invasão da privacidade de adolescentes, mas acredito que seja um momento importante para que os pais fiquem de olho em qualquer comportamento atípico e sempre tenham essa conversa importante com seus filhos e - principalmente - filhas. Se antes nos diziam "não dê conversa para estranhos", agora a coisa ficou ainda mais delicada, pois a interação virtual está cada vez mais comum e conhecer estranhos o tempo todo virou parte da rotina dos adolescentes.

Se nós adultas, ao usarmos aplicativos de namoro, já temos receio de nos encontrar com alguém novo (muitas mandam a localização para uma amiga, como medida de segurança), imagina o cuidado que temos que ter com essas meninas inocentes? Pedófilos que se escondem por trás de telas de celular existem aos montes, portanto, todo cuidado é pouco.

Papais e mamães, liguem as antenas! A solução não é prender as crianças e adolescentes em uma bolha, mas mantê-los sempre bem informados sobre os perigos da Internet. Um diálogo familiar aberto também gera a confiança necessária para que eles se abram com vocês caso algo estranho aconteça no ambiente virtual (e fora dele também, claro!). Sejam os melhores amigos dos seus filhos e vocês conseguirão protegê-los com muito mais eficácia.




quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Você me chamou de quê?!

Toda terça e quinta eu e a Pri, minha personal, fazemos nosso treino em uma quadra de esportes pública aqui em Brasília. Hoje quando eu cheguei, tinha uns meninos adolescentes jogando bola e andando de skate. Tava meio confuso o que eles realmente estavam fazendo ali. Eram uns cinco ou seis. Eu fiquei esperando a Pri embaixo do bloco e quando ela chegou, eles já nem estavam mais jogando bola, estavam mais zanzando, conversando e tinha um fazendo umas manobras de skate.

Como eles não estavam jogando, a Pri pegou nosso cantinho de sempre e começou a montar as coisas do treino. Ela disse que ia falar com eles, mas que assim que ela colocou a sacola no chão, eles começaram a chutar a bola em direção ao local que ela estava, só para intimidá-la. Ela resolveu então não falar nada e só montar as coisas, porque afinal de contas, viu que eles não mereciam esse respeito.

Eu estava fazendo um exercício no chão quando comecei a ouvir a conversa deles:

- A mina é mó vagabunda, cara! Só porque ela não gostou do meu desenho no jogo, me denunciou! A mina nem me conhece, ela é uma arrombada

Eu juro que depois de ouvir isso, eu desconcentrei no exercício. Fiquei com vontade de levantar e ir lá falar umas boas verdades para eles (tô meio arrependida de não ter ido, na verdade!), mas decidi escrever esse post. Principalmente depois que a Pri complementou a conversa deles contando uma história que tinha acontecido na academia pouco tempo antes de me encontrar.

Ela me contou que a TV estava ligada em um programa de esportes, especificamente falando de futebol e havia uma mulher apresentando e comentando. Três professores se reuniram na frente da TV enquanto chamavam a mulher de vagabunda, dizendo que ela não tinha nada que estar apresentando aquele programa. Ela disse que um fez o comentário e os outros deram risada, embora não tivessem, de fato, falado alguma coisa.

E aí ouvindo duas histórias tão parecidas em sequência, eu venho aqui perguntar aos homens: POR QUE TODOS OS XINGAMENTOS QUE VOCÊS DIRECIONAM A UMA MULHER TEM CUNHO SEXUAL? 

Vagabunda
Piranha
Arrombada
Vadia
Puta
Rodada

É impressionante que mesmo quando a história não tem nada a ver com sexo, a gente acaba sendo encaixada nessa categoria de xingamentos ridículos. A verdade é que vocês nos objetificam em qualquer situação e poderiam nos xingar de qualquer outra coisa, mas sempre escolhem ofender com um xingamento sexual.

O menino que não gostou da atitude da menina poderia tê-la descrito como idiota, imbecil, babaca e tantos outros nomes, mas escolheu apelar para palavras de cunho sexual que não tinham nada a ver com o contexto.

Os caras da academia poderiam criticar a apresentadora (não vou nem focar no machismo que sempre rola com as mulheres no esporte, especialmente no futebol) de tantas outras formas! Poderiam dizer que ela é incompetente, que não gostaram dos comentários dela, que não concordam... mas sempre acabam escolhendo esse tipo de palavra. E sabe qual é a cereja no topo? Os outros que não falaram nada. Riram e foram coniventes com o machismo, mesmo que não concordassem. E se você não concorda com uma atitude de um brother seu, mas ri ou fica quieto quando ele faz, você é conivente e está tão errado quanto ele.

Não pude deixar de lembrar mais uma vez das ofensas horríveis sofridas pela presidenta Dilma, que sempre que fazia algo considerado errado ou incompetente era chamada desses mesmos nomes supracitados. Se um presidente homem faz as mesmas coisas (ou até piores, como podemos ver nesse neandertal que vocês elegeram para presidente do Brasil!), jamais vai ser atacado pelas vias sexuais. Embora a gasolina esteja o dobro do valor da época da Dilma, você não vai ver adesivos por aí com gasolina saindo do cu do Bolsonaro. E já sabe o por quê.

Uma vez eu expulsei um aluno (de 12 anos) de sala porque ele xingou uma colega da piranha, numa "brincadeira". É é assim que a gente combate esse tipo de comportamento machista, desde jovem cortando pela raiz essas escolhas vocabulares tão normalizadas e disseminadas.

A Pri contou que uma aluna ouviu o comentário dos professores da academia e na hora se levantou e foi defender a moça da TV. E assim a gente também mostra que não vamos aceitar mais essas ofensas escrotas e sem noção de braços cruzados e que a cada dia mais incorporamos o sentido da sororidade às nossas vidas.

Chegou a hora (aliás, passou da hora!) de vocês começarem a filtrar esse tipo de vocabulário da vida de vocês. Essas escolhas não são aleatórias; são reflexo de uma sociedade que nos coloca unicamente no papel de objetos sexuais e o único jeito de nos criticar é "ofendendo nossa honra". As mulheres são seres humanos que vivem fazendo cagada também, mas seja mais coerente na hora de criticar ou até mesmo de xingar. Pare de ser um macho tóxico que precisa falar da nossa "vida sexual" para nos ofender. 

Grow up.












quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Deixe o seu passarinho dentro da gaiola

 Esses dias estava conversando com umas amigas e uma delas foi contar uma história bem conhecida da maioria das mulheres solteiras: conheceu um cara num aplicativo, conversa vai, conversa vem e, no mesmo dia, quando ela menos esperava... BAM! Rola não solicitada. Seguido de vídeo se masturbando não solicitado. 

Eu queria dizer que essa história me chocou, mas a verdade é que já ouvi tantas vezes esse relato de diferentes mulheres que só conseguia pensar "oh, yeah, it seems about right".

Sinceramente, eu não sei o que se passa na cabeça de um cabra que faz isso. Primeiramente, não conhece mulher AT ALL, né? Nós não somos como vocês, que só de olhar para um órgão sexual já ficam em ponto de bala. Nossa excitação é um pouco mais complexa que isso. É cheiro, é toque, é conexão, é audição. Se você quer saber, quando você manda essas fotos, a gente só encaminha para as amigas para dar risada. 

Segundamente, o que te faz pensar que vamos ficar felizes em ver o pinto de uma pessoa que conhecemos há menos de 24h? Meu bem, se não foi solicitado, não envie. Uma coisa é você estar no meio de um sexting (sexo por mensagem), ou naquela vibe falando do assunto e aí tem todo um contexto para envio de fotos safadas; outra coisa é você num minuto perguntar em que a pessoa trabalha e no outro minuto mandar foto da sua jeba. Além de nada sexy, é invasivo e inconveniente. 

Pensando nessa perspectiva, resolvi fazer uma lista sobre outras coisas que as mulheres não solicitaram aos homens e vivem recebendo, além de rolas e punhetas virtuais:

- Opinião sobre nossos corpos;

- Opinião sobre nossa vontade de casar ou ter filhos;

- "Explicações" sobre o que é feminismo;

- Categorização em "pra comer" e "pra casar";

- Informações sobre o quanto "a sua ex era louca";

- Opiniões sobre nossas roupas ou maquiagem;


Tem mais coisa, mas por ora, deixo vocês com essa pequena reflexão sobre autocontrole. 

A gente vive em sociedade; se fizermos tudo o que queremos, o mundo ficará mais caótico do que já é. Segurem seus pintos dentro da cueca e só tirem para fazer xixi, lavar ou caso seja solicitado. Have some self-control, for God's Sake! 

Ah! Façam o mesmo com as outras coisinhas da lista também, não custa nada.




sexta-feira, 7 de agosto de 2020

O nosso blog virou livro!



Olá, pessoal! Trago novidades quentes: o nosso blog virou livro

Para quem nos acompanha há muito tempo, sabe que ano passado fizemos 10 anos de Cama, Tradução e Banho! Que loucura, né? Nem parece que há uma década iniciamos essa jornada de tanto aprendizado, risadas e reflexões.  

Em comemoração ao nosso aniversário, lancei uma coletânea com alguns textos selecionados que considerei icônicos de toda a jornada desse blog. Eu colocaria muitos outros, mas o livro só podia ter 100 páginas. Uma pena, o que não falta aqui é assunto bom para gente espalhar! 

Os leitores mais antigos sabem que o blog começou com 5 escritoras e foi diminuindo até que eu sobrei sozinha. Por essa razão, coloquei textos só meus no livro. 

O livro é filho de um projeto lindo chamado "Frutificando" que dá a oportunidade de publicação para escritores novos. Através desse site Frutificando vocês conseguem comprar livros de escritores super talentosos (inclusive o nosso!) e também se inscrever para participar de um projeto, caso esteja a fim de publicar alguma coisa. 

Eu agradeço a todos os idealizadores e produtores desse projeto que nos ajuda a realizar o sonho da publicação! 

Então se você quer ter alguns dos nossos textos esquentando sua estante em casa ou presentear alguém, já sabe: entra no site do Frutificando e adquira já o seu! Eles entregam em todo o país!


segunda-feira, 22 de junho de 2020

VOCÊ tem direito sobre o MEU corpo?

Quando falamos por aí do desrespeito com o corpo da mulher, muitas pessoas têm a sua "opinião" sobre o que pode ser classificado como desrespeito ou não. Os homens tendem a relativizar essa coisa toda, pois cresceram em uma sociedade que os ensina que eles têm direito sobre nossos corpos. Não raramente passamos por situações constrangedoras como passarem a mão na nossa bunda, puxarem nosso cabelo, pedirem para nos conhecer já nos agarrando pela cintura, etc. Tudo isso parece besta, mas é uma tremenda violação da nossa individualidade.

E isso é só a ponta do iceberg, pois um cara que faz isso, que normalizou esse comportamento (que ele não aceitaria se fosse alguém fazendo com ele - principalmente se fosse outro homem), é capaz de fazer coisas muito piores.

Esse FDS escutei duas histórias que me fizeram refletir muito sobre como precisamos acabar com essa cultura escrota que nos expõe a tantas situações inaceitáveis.

A primeira história é de uma amiga que contou que conheceu um cara na balada. Eles ficaram e ela foi dormir na casa dele. No meio do ato sexual, ele aproveitou que ela estava de costas e tirou a camisinha, e ela só percebeu depois de um tempão.

A princípio, eu achei muito surreal, mas depois, pensando na linha toda da cultura, que acaba incentivando esse tipo de comportamento masculino, fiz um pequeno experimento. Perguntei num grupo com mais 4 amigas (sim, só 4) se já tinha acontecido isso com alguma delas. Dessa forma, eu teria uma noção se isso é uma prática recorrente entre os homens.

Prontamente uma delas disse que sim e relatou a seguinte história:

Ela estava ficando sério com um cara e a primeira vez que eles transaram, foi na loucura, dentro do carro, bêbados, e acabou rolando sem camisinha. Na segunda vez, ele veio querendo fazer sem de novo. Ela disse que não, que aquilo não aconteceria novamente, que foi um vacilo e que ela não queria mais assim. Ele insistiu, querendo fazer sem camisinha, mas ela não cedeu. Porém, no meio do sexo, ele aproveitou que ela estava de costas e tirou a camisinha sem informá-la.

Ao perceber, ela ficou muito chateada, confrontou-o e ele disse que "tirou porque estava incomodando". Ela pediu que ele a levasse para casa imediatamente. E sabe o pior disso tudo? Ela disse que se sentiu "suja, desprezada, um lixo" e morreu de chorar.

Gente, isso é errado de tantas formas diferentes! Como vocês homens não conseguem perceber a gravidade dessas atitudes?!

A primeira coisa que me choca é a falta de autocuidado. Não entendo como pessoas que têm a vida sexualmente ativa, principalmente sendo solteiros, não se preocupam com sua saúde sexual. Como vocês têm tanta certeza de que as pessoas que vocês ficam não tem doenças? Doença não tem cara, não, galera. Qualquer um pode contrair. Não dá para olhar para cara da pessoa e confiar que ela está limpa. Usar preservativo é cuidar de si mesmo, primeiramente. É claro que - não vamos ser hipócritas - às vezes a gente acaba deixando rolar sem camisinha, no calor do momento, mas isso deveria ser uma exceção, e não uma prática comum. É perigoso para todo mundo.

Segundo, o que aconteceu nessas histórias configura ABUSO SEXUAL. O consentimento foi COM camisinha. Se você ultrapassou essa linha, você violou a outra pessoa. SIM, isso também é uma forma de estupro. Estupro é sexo sem consentimento. Se ela não consentiu sem camisinha e você não respeitou, você estuprou. Parece que vocês têm dificuldade de compreender os limites! O seu direito acaba quando começa o do próximo. Se você não quer se proteger é problema seu, mas não tem direito de expor a outra pessoa a sua negligência.

As duas histórias tem antagonistas bem diferentes: um é um desconhecido de uma transa casual. O outro era alguém conhecido, fixo, no qual a minha amiga achou que poderia confiar. Isso mostra bem que não importa a relação que eles têm com a outra pessoa, eles se acham no direito de tomar decisões sobre os nossos corpos.

E por último, você desrespeita a pessoa como ser humano. O sexo é um ato conjunto, então tudo o que acontecer deve ser consentindo por todas as partes. Tirar a camisinha sem informar a outra pessoa é o cúmulo do menosprezo pelo outro. Você não se sentiria violado caso sua parceira fizesse algo sem o seu consentimento? Por que é tão complicado se colocar no lugar do outro? É só a sua vontade que conta?

E aí, além da exposição física ao perigo de uma doença sexualmente transmissível ou uma gravidez indesejada, surgem as consequências psicológicas. A primeira pessoa a me contar a história, relatou um sentimento de paranoia e extrema preocupação, que durou dias. A segunda relatou um sentimento de autodesprezo e desespero.

Mais uma vez, o egoísmo masculino nos traz consequências de atitudes que nem são nossas. Olha que absurdo: nós é que temos que lidar com as consequências das atitudes de vocês!

Essa postura é tão infantil, sabe? Vocês acham que a gente também não preferia transar sem camisinha? CLARO! Mas é uma questão de maturidade. De compreender que antes de qualquer coisa, vem a nossa saúde. Se você não concorda com isso, arranje alguém que pense como você, pois nós não temos a obrigação de lidar com suas decisões erradas. Você não pode obrigar uma outra pessoa a engolir as suas escolhas individuais contra a vontade dela. A única pessoa que tem lidar com as consequências das nossas atitudes somos nós mesmos.

GROW UP!

Já chega, machaiada! Vamos botar a mão na consciência!



sexta-feira, 15 de maio de 2020

Carentena

Olá, queridos leitores! O último post foi antes de começar a nossa tão detestada quarentena! Que vergonha dessa escritora relapsa!

Em minha defesa, o volume de trabalho tem sido maior que nunca, e bom, sem sair de casa, teoricamente, não está acontecendo muita coisa para contar né?

Só que junto com a quarentena chegou também a inevitável CARENTENA, minha gente. E eles estão de volta com as piores desculpas esfarrapadas e falta de tato para paquera. Eles. Eles mesmos. Os homens solteiros sem-noção.

Vou mostrar dois para vocês hoje. Mostrar, sim. A gente gosta é de print, né?

Sério, acho que vou lançar um curso online para ensinar esses moços a conversar porque tá difícil demais. Eu não sei se rio ou choro.

Vamos aos casos!

CASO 1: Esse rapaz super simpático (?) que conheci na igreja e literalmente só falo "oi" e "tchau", um dia desses resolveu me abordar no Whatsapp (que pegou no grupo) e puxar um assunto nada a ver. Eu achei estranho, mas respondi normalmente. Pouco depois, ele admitiu que só tinha mandado aquela mensagem para ter uma desculpa. E aí, my friends, vocês vão ver a "conversa" mais doida dos últimos tempos.


Eu achei que fui muito educada e paciente para o nível de sandice que esse rapaz apresentou. De vez em quando chega um "linda" nos meus stories, mas a gente continua sem responder, porque né... não tem propósito de tentar conversar com uma pessoa que parece um chimpanzé tentando se comunicar com seres humanos.

E aí ontem apareceu um outro mocinho, que eu nunca vi na vida, puxando assunto no Instagram. O meu Instagram é fechado, então ponderei bastante se eu ia responder. Olhei nos amigos em comum e ele tinha uma das minhas melhores amigas. Já mandei logo um print perguntando quem era e ela disse que era um cara que ela já tinha ficado duas vezes. Confesso que já fui meio armada porque se ele já tinha ficado com ela, eu provavelmente não ia dar bola pra ele. Mas aí... aí ele veio com umas ideias muito tortas:


Olha... eu admito que sou chata. Às vezes eu pego no pé mesmo. Mas vai, ele CLARAMENTE sugeriu furar a quarentena. Eu não estou ficando doida. E aí quando não colou, quis tirar o dele da reta. Se você vai propor uma idiotice, pelo menos tenha coragem de admitir o que está propondo, né? Porque as coisas que ele falou não explicam nada do que ele disse sobre "compartilhar a quarentena". E aí ele foi só aumentando o nível de babaquice mesmo.

Então é isso. A CARENTENA está batendo à porta de todos. Mas nem todo mundo sabe aproveitar bem as oportunidades, né?

Você tem uma história boa de CARENTENA? Se quiser vê-la publicada aqui, só deixar um comentário que a gente se comunica!

Até a próxima, pessoal! E FIQUEM EM CASA!



domingo, 8 de março de 2020

Sororidade para quê?

Puta. Vadia. Piranha. Vagabunda.

Toda vez que nos chamamos assim, uma fada morre.

A palavra sororidade significa união entre as mulheres. Rede de apoio, de suporte, de irmandade.

Desde o início dos tempos, um ambiente de competição foi incitado entre nós e crescemos nos enxergando não como irmãs, não como iguais - apesar de diferentes! -, mas como rivais. E como isso nos prejudica e faz mal!

Olhamos constantemente umas para as outras como se estivéssemos em uma eterna disputa de quem é a mais bonita, a mais gostosa, a mais competente, a melhor. E isso nos aproximou do machismo mais do que imaginamos. Quando olhamos para uma outra mulher com ares de superioridade, estamos reproduzindo um comportamento inventado por eles para deslegitimar nosso direito de escolha e nosso poder de decidir como viver, como usar nosso corpo, como viver nossa sexualidade, como agir em tudo.

Foram os homens que cagaram regra sobre como devemos nos comportar. Foram eles que inventaram essa história de que eles tem direito de agir de uma determinada forma, mas que se fizermos o mesmo, não seremos dignas de respeito. E acreditamos. Por isso vivemos julgando e inferiorizando mulheres que têm comportamentos que não concordamos ou que, mais ainda, a sociedade patriarcal nos ensinou estar errado.

A única presidente mulher que esse país teve, quando criticada, era chamada de vadia e vagabunda. Quando o preço da gasolina subiu, confeccionaram adesivos onde gasolina saíam de sua vagina. É o homem sexualizando e diminuindo a mulher à uma suposta função sexual. Se sentiram no direito de usar seu corpo feminino para criticar seu governo. Enquanto isso... A gasolina hoje está o dobro do preço daquela época, mas você não vê o atual presidente, homem hétero cis, com gasolina saindo de seu ânus em adesivos. Será que você não enxerga machismo nisso?

Qualquer mulher sexualmente mais ativa ou mais explícita virou piranha. Quando um homem pega todo mundo, ele é garanhão, o gostoso. Se for mulher, é vagabunda.

Chamamos mulheres com as quais não convivemos de vadia porque ela postou uma foto sensual. Não conhecemos sua história, suas lutas, suas dores, mas nos sentimos no direito de julgá-la porque ela usou seu corpo como ela mesma decidiu. E que coisa, o corpo é dela, por que nos acharmos dignas de dizer como ela deve se comportar ou não? Por que achar que é melhor que outra mulher só porque você é mais discreta em sua sexualidade? Você acha que isso veio de você, verdadeiramente? Ou consegue reconhecer que te convenceram disso?

Quando um marido trai sua mulher, sempre quem leva a surra e é chamada de vagabunda é a amante. Alguém já parou para pensar que quem tem o compromisso com você é ele? Que quem violou votos ou compromisso foi ele? Que o mau caráter maior da história é ele? Não que ela esteja certa, mas o fato é que o fardo maior sempre recai sobre a mulher. E ainda tem gente que diz que traição está no DNA do homem, para justificar suas escapadas. "É assim mesmo!", dizem. E dessa forma, seus comportamentos boçais vem sendo justificados desde sempre.

Isso veio de lá. É interessante para eles que continuemos a nos ver como competição, porque se percebermos o que podemos fazer quando nos unirmos, a vida mole deles ACABA. Sabe por que os homens tem tudo o que querem? Porque são unidos. Porque tem colaborativismo. E se tem algo que podemos aprender com eles, é isso.

SO-RO-RI-DA-DE. É um bicho tão novo, que quando escrevemos ainda fica sublinhado de vermelho. O dicionário não conhece. Muitas mulheres também não. Não sabem o poder de olhar para alguém que passa pelos mesmos apuros que você com olhos de compreensão, compaixão e respeito à diversidade.

Essa é a lição desse 08/03//2020. Aprender a olhar para outra mulher e reconhecer nela as mesmas lutas que você está lutando. Os mesmos medos, inseguranças, privação de direitos, falta de oportunidade, injustiça, violência, violação. Aquela mulher não é sua inimiga. Ela sofre as mesmas coisas que você por ser mulher. Vamos nos unir de verdade ao invés de dar as mãos só para quem se comporta como nós?

FELIZ DIA DAS MULHERES! E QUE HAJA SORORIDADE!

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Ser mulher e querer sair para se divertir é...

Dia desses eu e minhas amigas do trabalho marcamos um happy hour super light, super família. Fomos a um karaokê num rolê bem alternativo, onde uma das meninas até levou os dois filhos.

Ao chegarmos, já fitei um cara bem estranho no balcão bebendo. Ele me incomodou já de cara porque nos secou dos pés à cabeça quando entramos. Meu olho treinado para pervert creeps já logo pegou o tarado no meu radar.

Tudo bem, sentamos, começamos a comer, conversar, dançar. E ele lá, bebendo sem parar no balcão, um tiozão na casa dos 60 e poucos anos, claramente sozinho e começando a ultrapassar a linha do aceitável da bebida.

Estávamos no maior papo, quando de repente ele levanta e acha apropriado ir fazer uma "dancinha seduzente" (uma tonelada de sarcasmo aqui) na nossa mesa. Todas o olharam com reprovação e ele continuava achando que tava abafando.

Educadamente, eu pedi que se retirasse da nossa mesa, pois não estávamos achando legal. Ele foi para o meu lado e disse: "agora que eu quero ouvir essa conversa mesmo!" e continuou lá rindo, se achando super engraçado e sedutor, até que eu repeti:

- Moço, você pode, por favor, se retirar? Nossa conversa é particular e você está sendo muito inapropriado.

Ele saiu com cara de cão abandonado e eu não conseguia parar de observar como ele olhava para as mulheres. QUALQUER MULHER que aparecia na frente dele, ele olhava com aquela cara de que vai te atacar a qualquer momento e eu comecei a temer pela integridade de todas ali.

Havia um grupo de 3 meninas conhecidas na mesa de trás. Após ser rejeitado na nossa mesa, percebi que ele foi à mesa delas fazer o mesmo número. Até desconcentrei da conversa com minha amiga, porque a presença dele estava obviamente incomodando a todas, mas as meninas não tiveram coragem de expulsá-lo e ficaram só olhando com cara de ódio, na esperança de ele se tocar e sair. Novamente senti a necessidade de interferir. Me levantei e disse:

- Moço, de verdade, você está sendo MUITO inconveniente!!

As meninas em coro, concordaram comigo:

- Está mesmo!

Eu continuei:

- Dá para você sair daqui e parar de incomodar, por favor?

Ele saiu, relutante, e eu já não conseguia mais relaxar naquele ambiente. Peguei um papel e escrevi para a gerente que o homem estava assediando todas as mulheres do local. Ela me respondeu que uma vez ele foi até expulso desse mesmo bar porque ficava assediando as mulheres e fazendo gestos obscenos para elas. Me disse que eu podia ficar tranquila que ele já estava pagando a conta e indo embora. Como e por qual razão eles permitiram sua volta lá, é que não ficou claro para mim.

Não estamos seguras em lugar algum. A nossa realidade é que um homem aleatório se sente à vontade para se comportar como um bicho solto na selva, nos tratar como um pedaço de carne e não respeitar quando alguém rejeita suas investidas indesejadas.

Eu estou sem palavras para terminar esse post, porque estou exausta de ter que combater esse tipo de animal que é tão comum por aí. A gente não devia passar por isso diariamente. A gente não deveria ter que sofrer assédio quando estamos tentando nos divertir. Não deveríamos ter que dizer o óbvio para um homem que sabe muito bem o que está fazendo.

Estamos cansadas. Se não sabe se comportar como ser humano, então fique preso numa jaula. Não somos obrigadas a perdermos a paz por conta de um neandertal que não tem o mínimo de auto-controle.

PELO AMOR DE DEUS, fique em casa!






domingo, 16 de fevereiro de 2020

Será que você já foi estuprada e não sabe?

- Saí com um cara de uma festa e fomos para o apartamento dele. Eu nem queria transar, só ia dar uns pegas e ir pra casa depois. Quando chegamos lá, por algum motivo, a porta não abria. Ele baixou minha saia ali mesmo no corredor e eu disse que não ia rolar, que eu não queria. Ele sugeriu que fôssemos para o carro dele. Eu disse que queria ir pra casa e ele disse que me deixava. Entramos no carro dele, e ele colocou o protetor de sol. Pulou em cima de mim, eu disse que não ia rolar, ele respondeu que ia sim. Eu fiquei pondo a mão para ele não enfiar, mas ele enfiou.

- Você foi estuprada, você sabe, né?

- An??

Pois é, gente. E foi assim que a minha amiga descobriu que tinha sido estuprada e eu vi a necessidade de falar um pouco sobre estupro, porque a nossa visão sobre ele é bem limitada.

Para muitos, estupro é só quando um maluco te arrasta para o mato e te força a transar. Mas o estupro tem muitas outras vertentes. É preciso manter na cabeça bem claro que qualquer tipo de sexo sem consentimento é estupro, sim. Não importa se você está ficando com a pessoa, namorando, casada, se já está sem roupa, se estava se pegando. Se na hora H você não quiser e a outra pessoa forçar, você está sendo estuprada.

Eu sei que é difícil aceitar isso, eu já passei por essa revelação.

Uma vez eu ficava com um cara e saímos de uma festa bêbados. Eu mal conseguia ficar em pé, estava absolutamente inconsciente, mas me lembro direitinho de falar para ele que queria ir para casa e esse pedido ser totalmente ignorado. Ele me levou para casa dele e eu só lembro de flashes dele transando comigo e eu sem conseguir reagir, até porque ele era um cara bem forte e grande.

Demorou anos para que eu entendesse que naquele dia eu fui estuprada pelo meu ficante. Ele tirou vantagem da minha condição e me violou.
Foram necessárias muitas leituras, ouvir muitos depoimentos, e finalmente, o que me derrubou, foi o clipe da Lady Gaga "Till it happens to you", que mostra várias cenas de estupro - uma delas onde o cara se aproveita de uma menina que estava inconsciente. Eu chorei quando assisti porque eu me vi ali e tomei consciência de como o estupro realmente funcionava.

A verdade é que muitas de nós fomos estupradas sem saber.
Tudo isso porque não consideramos estupro quando gostamos da pessoa ou temos tesão por ela. A gente mesmo se culpabiliza pelo excesso de álcool, provocações sexuais ou coisas parecidas. É necessário compreendermos que estupro é muito maior do que imaginamos e fomos ensinadas, e começarmos a ficar mais atentas aos sinais. SEXO SEM CONSENTIMENTO É ESTUPRO E PONTO FINAL.

Espero também que os homens comecem a pensar mais nisso. Quantas vezes você já estuprou alguém? É, é isso mesmo. Pesado? Sim. E tem que ser. Você não é muito diferente do cara que arrasta uma mulher desconhecida e estupra, não.
Quantas vezes você já forçou a barra? Pôs a mão na menina mesmo quando ela relutava, achando que ela fazia "cu doce"?
Quantas vezes você já insistiu para transar com sua namorada/esposa/peguete mesmo quando ela dizia não querer?

O nosso corpo é propriedade nossa. Eu não devo nada a você. Se eu quiser desistir na hora, eu posso. Eu não tenho obrigação nenhuma de abrir meu corpo para você quando você bem entender. O consentimento é mandatório, eu sou dona do meu corpo. Não é porque eu tenho uma relação com você ou porque te dei uns pegas que eu sou obrigada a ir até o fim. Essa decisão é apenas minha. Está mais que na hora de todos os homens entenderem isso de uma vez por todas.

E a gente fica aqui desse lado, denunciando essa cultura monstruosa e ajudando umas às outras a aprender cada vez mais um pouco sobre como a misoginia está presente no nosso dia-a-dia. Vamos à luta!

sábado, 4 de janeiro de 2020

A nossa suposta missão de transformar os homens em... homens


Olhem bem para essa imagem e seus detalhes. Tem tanta coisa errada nela que eu mal sei por onde começar.

Primeiramente, o que é uma mulher feminina? Desde o começo do movimento feminista a discussão sobre feminilidade começou e até hoje não ficou muito claro na cabeça de muita gente que ser mulher não tem nada a ver com o modo de se vestir, falar, andar etc. Aliás, a própria expressão "ser feminina" é uma total criação da sociedade conservadora para te convencer de que para ser mulher você precisa ser delicada, falar baixo, usar só vestidos e saias, maquiagem, jóias, enfim, parecer uma princesa da Disney. Mais uma forma de exercer poder e controle sobre a sua vida. A frase "Feminina sim, feminista nunca" é espalhada por aí como uma ideia de que as mulheres feministas são todas iguais: não depilam, tem cabelo Joãozinho, só usam roupa larga, bebem cerveja e amassam a lata, arrotam em público, odeiam maquiagem. Tentam te convencer disso e muitos acreditam. O movimento feminista é sobre escolhas. E isso implica também o seu estilo pessoal de comportamento e vestimenta. Faça como quiser. É disso que estamos falando. Você achar que não existem feministas que amam maquiagem, têm zero pêlos no corpo, são delicadas etc, é prova cabal de que você realmente não conhece o feminismo. É pura ignorância sobre o assunto.

A segunda coisa que me chama atenção é a imagem de uma moça segurando um bebê com todo amor do mundo. Como se, para ser mulher de valor, para ser feminina, você precisasse necessariamente ter filhos. É preciso separar a mulher da obrigação de reproduzir. Nós não somos apenas potenciais mães. Existem muitos sonhos dentro de nós que podem ou não incluir filhos. Muitas mulheres têm filhos sem nem pensar se REALMENTE querem, porque cresceram com essa expectativa sobre suas cabeças e de repente não reproduzir parece uma ideia muito absurda. Acreditem, vocês tem escolha. Você é um ser humano completo. Não ter um filho não vai te deixar incompleta. O que nos deixa incompletas é abrir mão de sonhos reais e viver uma vida frustrada. Tenha filhos ou não, SE QUISER. Muitas mulheres feministas têm filhos e os amam com o mesmo amor de mulheres que não se consideram feministas. Achar que feministas são contra o ato de reproduzir é mais um traço da ignorância sobre o movimento.

O terceiro ponto, claro, são essas frases absurdas de que "mulher transforma homem" e de que "homem vira homem diante de uma mulher feminina". Porque essa ideia se espalhou por aí, encontramos tantos homens infantis aos 30. Homens que não se vêem na obrigação de amadurecer até que encontrem uma esposa - ou seja, uma segunda mãe - que diga para eles o que tem que fazer para deixar de ser menino e virar homem. Desde pequenas ouvimos que as meninas amadurecem mais rápido. Isso não é biológico. Isso é social e só existe porque é exigido muito mais comportamentos responsáveis de meninas do que de meninos, desde pequenos. As meninas sempre tem que ter letra bonita, caderno organizado, material impecável, notas boas, brinquedos bem cuidados, quarto arrumado, não arrotar, sentar com a perna fechada "que nem mocinha", ajudar nas tarefas domésticas, e por aí vai. A lista é infinita. Sem ter responsabilidades, não é de se estranhar que homens demorem muito mais para amadurecer do que mulheres, não é mesmo? O amadurecimento de qualquer pessoa passa diretamente por ter que lidar com responsabilidades, com situações adversas, com experiências diferentes, com a necessidade de enfrentar problemas. E se os nossos meninos não são expostos a isso, continuaremos a ter uma sociedade com moleques de 25, 30, 40 ou 50 anos.

Outro problema dessas frases é o peso nas costas das mulheres. Essa síndrome de Mulher Maravilha que acabamos abraçando como missão. Quantas de nós já conhecemos um cara estragado e achamos que, com nosso amor, carinho e dedicação, iríamos transformá-lo num príncipe? Provavelmente todas nós passamos por isso alguma vez na vida. Quase que 100% das vezes o resultado é um belo par de chifres na cabeça, um relacionamento abusivo ou algo parecido. Nós não somos mecânicas para consertar carro quebrado. Nós merecemos um carro zero. E no momento em que compreendermos que não é função de ninguém arrumar a vida do outro, vamos parar de aceitar menos do que merecemos. Entenda: ninguém conserta ninguém além de si mesmo. Se a pessoa quer mudar, evoluir, melhorar, amadurecer, é responsabilidade dela. Estar cercado de pessoas que apoiem, que incentivem e motivem é ótimo, mas nenhuma mudança vai ocorrer se a própria pessoa não quiser e não se esforçar. Tem que partir dela, independente de gênero ou orientação sexual. Essa história de transformar homem é só mais uma responsabilidade que querem atirar para nós, para que os homens mais uma vez possam se eximir das consequências dos seus atos e as mulheres continuem sendo a grande fonte de culpa da sociedade.

Depois de tantas reflexões possíveis sobre uma única imagem com frases aparentemente inofensivas, é inevitável não me preocupar com o rumo em que as relações tomam ainda hoje, no século XXI. É tão antiquado, tão inapropriado, tão sem sentido esperar que o outro tenha a missão de me curar das minhas infantilidades, que eu me pergunto se algum dia vamos de fato alcançar a igualidade de gênero pela qual tanto lutamos. Se até em nossas próprias vidas pessoais ainda há tanto a se alcançar, quando vamos conquistar direitos sociais mais justos? Conquistaremos?