segunda-feira, 13 de maio de 2019

A admirável arte do SIM

Eu tenho medo de casamento. Parece uma frase meio doida, mas hoje consigo identificar de onde vem minha dificuldade de estar em relacionamentos longos.

Eu tenho 32 anos e meu namoro mais longo foi de 1 ano e 8 meses, há mais de 10 anos. Meu padrão de relacionamento é me envolver com pessoas que tem poucas afinidades comigo e em 3 meses a validade da empolgação expirar. A ideia de "os opostos se atraem" é a maior balela, para mim. Eu sempre acabo buscando aquele elo duradouro entre a outra pessoa e eu, e nunca encontro. As poucas vezes que conheci pessoas com bastante afinidade comigo, eu me apaixonei perdidamente e acabei machucada por N motivos diferentes.

Depois do meu último namoro, procurei uma terapia. Era difícil acreditar que eu tinha enjoado de mais uma pessoa. Afinal, qual era o meu problema? Eu precisava saber!

Após algumas sessões de análise, de cavar fundo no meu histórico amoroso e familiar, a psicóloga chegou a conclusão de que eu supervalorizo a ideia de casamento. Que, para mim, o casamento é um negócio tão ideal, que eu dificilmente me verei na posição de me comprometer de forma tão séria.

Um dos maiores pavores da minha vida, é ter um relacionamento igual ao dos meus pais. É ser como a minha mãe e encontrar um cara como meu pai. Minha mãe lutou para salvar o casamento dela de todas as formas que pôde. Adiou até demais a separação. Eu vivi uma vida de pensar "a qualquer hora minha mãe vai desistir". Ela foi persistente, porque é assim com tudo. Mas a verdade é que meu pai não tinha o que ela queria para dar. O que ele tinha para oferecer era muito pouco para as expectativas dela e ela não percebeu isso no início.

Não havia companheirismo entre eles. Meu pai trabalhava de domingo a domingo e mesmo assim nunca tinha dinheiro. Minha mãe, como a maioria das mulheres, fazia jornada tripla, estava sempre à beira de um ataque de nervos. Raramente via os dois em um momento de intimidade, de romance. Eles nunca saiam juntos. Meu pai sempre dormia no sofá assistindo jornal e minha mãe sempre ia beber e dançar com os amigos.

Minha família nunca viajou junta. Aliás, as vezes que viajamos, éramos só eu, minha mãe e meu irmão. A gente não fazia nada os 4 juntos. Meu pai nunca foi muito família e minha mãe sempre sonhou com isso. Acho que dá pra diagnosticar onde o casamento deu errado, né?

O fato de eu não conseguir me envolver facilmente vem desse medo. Eu tenho dificuldade de acreditar que vai dar certo, e aí não dá. Eu tenho pavor de acabar me contentando com alguém que não pode me oferecer o que eu procuro em um relacionamento. Mas eu ainda não entendi como eu somatizo isso e acabo enjoando dos caras. E nem porque quando eu acho que está certo, a pessoa sempre me magoa. Muito menos como resolver isso. Talvez por isso (entre outras coisas) tenha passado 10 anos da minha vida questionando as coisas do amor.

Não é fácil vir aqui admitir minhas fraquezas. Eu vejo minhas amigas casando e acho lindo. O que admiro mais é a fé que elas tem no relacionamento que construíram. Faço piadinhas inapropriadas aqui e ali, mas no fundo é meu mecanismo de defesa, porque nunca tive algo parecido, que me desse a confiança de dizer um SIM tão transformador. Se tivesse como, pediria que elas me ensinassem, porque gostaria de saber como é estar tão confortável com alguém a ponto de saber que ele tem tudo o que você quer e necessita. É óbvio que elas tem dúvidas, mas eu apenas não me imagino tendo a coragem de dar esse passo.

Não é só o casamento dos meus pais, mas quantas histórias escutamos todos os dias? Traições, desconfianças, casamentos de fachada, casamentos assexuados, casamentos abusivos, casamentos infelizes em que as pessoas ficam acomodadas...

A verdade é que, com tanto exemplo ruim, acho bem admirável que elas conseguiam bloquear o barulho e confiar que os seus serão diferentes. E espero que sejam mesmo! Que nossa geração seja mais feliz, mais preocupada em resolver essas coisas, ao invés de ficar jogando para debaixo do tapete e se contentando em ser infelizes. Que cuidem mais um do outro, que se comuniquem melhor, que se abram mais. Quem sabe assim, como mais exemplos bons do que ruins, eu consiga acreditar que pode sim dar certo? Como eu quero!

Enquanto isso, continuarei chorando em casamentos, porque independente do que eu acredite ou não, ô negócio emocionante!