segunda-feira, 8 de abril de 2019

"Mas ela é mulher! É diferente!"

Era uma vez a história de um rapaz que se achava o comedor pica das galáxias e conheceu uma mina ponta firme que não tinha medo de assumir quem era e o que queria. Vamos chamá-los de Jenifer e Wesley, porque a zoeira não pode morrer.

Eles se conheceram no Tinder (porque né?) e começaram a ficar. Já de cara - como nós mulheres já estamos acostumadas - veio avisando que não queria nada sério. Mais que isso, que não acreditava em monogamia. Que só tinha relacionamentos abertos. Que gostava de frequentar casas de swing e praticar menage a trois. Perguntou se ela aceitaria um relacionamento aberto. Ela, que já tinha feito um pouco de tudo dessas loucuras sexuais, sabia que não fazia sentido para ela relacionamento aberto e disse que então não teriam nada.

Eles continuaram ficando, sem muito compromisso, aquela velha história que já conhecemos também. O rolo estava durando bastante tempo, mas sabíamos que Wesley não queria relacionamento fechado. O que ele não esperava, era que ela fosse uma mulher que aproveitava bem as oportunidades que a vida trazia.

Um belo dia, na casa de Jenifer, ele a convidou para ir a uma festa no dia 12. Ela disse que não poderia, porque iria viajar com um boy.

Ele, muito chocado, perguntou:

- É sério isso?
- Sim, ué. A gente não tem nada. Eu não gosto de mentir. Estou te falando a verdade. Tenho um crush em SP, ele está vindo para Goiânia, vou encontrá-lo e passar alguns dias com ele.
- Você só pode estar brincando.

Wesley sentia como se uma faca estivesse o partido de ponta a ponta. Mas como assim ela ia viajar com o outro homem? E ainda dizia na cara dele, sem nenhuma vergonha ou pudor?


Essa história é baseada em fatos reais e pode nos fazer refletir sobre aquele velho conceito de 2 pesos e 2 medidas, que também estamos bastante acostumadas. Essa não foi a primeira vez em que eu ouvi a história de um cara que queria relacionamento aberto, mas não estava pronto para ele. Que não acreditava em monogamia - para ele. É mais um caso de gente que fala "mas ela é mulher. É diferente."
Você dá a premissa da liberdade para o outro, mas quando o outro (a outra, no caso) aproveita o que lhe foi concedido, você não sabe lidar.

Hoje mesmo estava assistindo uma entrevista do Fábio Porchat sobre a nova série que ele estreou mês passado, chamada "HOMENS?". A temática é: homens se descobrindo machistas e tentando lidar com isso e com as mudanças que estão acontecendo no mundo moderno.

Ele citou uma cena onde, um dos personagens trai a esposa com várias mulheres. Posteriormente, descobre que sua mulher tem um amante e se indigna. Quando os amigos o questionam sobre seu não-direito de se revoltar (devido a sua própria traição), ele diz: "mas é diferente!". É diferente por que?

Uma vez, um amigo chegou em minha casa aos prantos. Descobriu uma conversa mega suspeita entre a esposa e um cara no Facebook. A xingou de vagabunda, duas-caras, fingida, traidora, mentirosa. Eu nunca tinha o visto tão magoado, tão nervoso, chorando tanto. Alguns dias depois, eles resolvem dar uma nova chance ao relacionamento. Pouco tempo depois, em nome de um novo relacionamento construído com honestidade, ele abre o jogo: havia traído a esposa duas vezes. Uma delas, durante a gravidez.

Agora me explica... que direito ele tinha àquela reação tão descompensada? A xingar a mulher de tudo quanto é nome, se sentindo ferido, quando ele tinha feito coisa pior? É tanta hipocrisia que não dá para defender!

Eu já vi meu pai defendendo meu irmão e sua mania de trair as namoradas porque "é difícil para ele, vocês tem que entender. Ele é músico, é muito assédio em cima".

E por aí vai! Tenho certeza que cada vez parágrafo que você leu te trouxe a memória de algum homem usando 2 pesos e 2 medidas para analisar uma mesma atitude de acordo com o sexo da pessoa que agiu.

A lição que fica é a seguinte: NÓS NÃO SOMOS IGUAIS, MAS TEMOS DIREITOS IGUAIS. O mundo mudou, acompanhe. Não existe mais passaporte exclusivo para homem fazer o que quer e a mulher ficar sendo a santa, a submissa, a que aceita ser cagada na cabeça. Pare de achar que você tem direito/coragem de fazer alguma coisa e a mulher não. Pare de achar mulher de roupa curta na rua bonita, mas a sua não. Pare de querer comer todo mundo, mas achar que mulher que dá para todo mundo é piranha. Apenas PARE. A balança é uma só, cherrie. Seja ela com um homem ou uma mulher em cima.