domingo, 22 de dezembro de 2019

Um perigo chamado carência

Depois de estar solteira por tantos anos, chegamos àquela encruzilhada entre o não conseguir se envolver com tanta facilidade e o acabar se envolvendo com qualquer um por pura carência. Já até escrevi aqui sobre o desafio de não ficar totalmente cética, mas também não forçar a barra só para não ficar sozinha.

Tem dias que é super fácil ser a sensata da vida e agir com maturidade, mas de tempos em tempos, a dona carência chega a um nível perigoso onde a gente corre sérios riscos de ignorar sinais importantíssimos em nome de viver um romancezinho sequer, nem que seja só para tirar a poeira do coração.

Foi aí que eu reencontrei um rapaz que havia sido apaixonado por mim na época da escola e quase troquei os pés pelas mãos. Todo aquele frisson de adolescente de alguma forma reapareceu dentro de nós e de repente estávamos nos falando todos os dias. Eu, solteira há mais de 6 anos, sem filhos. Ele, recém-separado de um relacionamento de 8 anos com uma mulher sabidamente instável e que não aceita o fim do casamento, com o adicional de 3 filhos. Parecia que a novela mexicana já estava escrita, e mesmo lendo o script antes de beijá-lo, eu acabei caindo nessa furada.

Por que será que carência deixa a gente cego tal qual quando estamos apaixonados por alguém? Por que a gente começa a relativizar tudo e relevar algumas coisas importantes, ouvindo seu cérebro dizer "ah, mas ele te trata tão bem, ele foi tão apaixonado por você, ele é uma pessoa tão bacana!"?

The thing is: não é sobre ser ou não ser bom. É sobre não ser bom para você. E pronto.

Ficar com um cara numa vibe super nostálgica e romântica e no outro dia ser bombardeada pela ex do cara (que tem todas as senhas das redes sociais dele - e eu nunca vou entender essa falta de privacidade que certos casais confundem com confiança!) é puro sinal de que é uma cilada, Bino. Por mais que saibamos da instabilidade emocional da moça (o que, acreditem, para mim é bem difícil de concordar, como feminista que sou), até onde o que ela diz é mentira? E mais, até onde o que ela diz vai passar reto e não te afetar em nada? Sou assim tão evoluída?

A verdade é que a mulher já foi denunciada por ameaçar a última tentativa de romance do ex-marido de morte e inclusive condenada a pagar indenização e prestar serviços comunitários. Ela jogou roupas e livros dele fora. Ela furou os 4 pneus de seu carro e jogou xixi nos bancos. Ela usa os filhos como forma de ameaçá-lo. E toda vez que ele chega perto de mim, ela descobre e me manda mensagem inventando alguma coisa para que eu desconfie de que tudo o que ele fala e faz é mentira.

Onde vou parar me envolvendo em uma história tão maluca, sendo enroscada em uma relação tão tóxica? Serei eu envenenada também?

E foi aí que o lado racional do meu cérebro começou a berrar, porque não importa que ele me trate como uma rainha, me faça sentir desejada, admirada ou passível de ser amada. Essa confusão é grande demais pelos poucos benefícios recebidos.

Eu mereço sim tudo isso que ele estava me fazendo sentir, mas como diria Cazuza, eu quero a sorte de um amor tranquilo. Sentir tudo isso e no dia seguinte sentir uma tensão absurda, um medo de estar sendo vigiada a cada passo e pavor de a qualquer momento sofrer alguma tipo de agressão física ou psicológica faz esse lance perder todo o valor.

Eu sinto que está na hora de meu coração voltar a ter mais do que apenas a função de bombear sangue, mas quando isso acontecer, vai ser com alguém que me faça sentir segura o tempo todo e não apenas enquanto está fisicamente na minha presença. Valeu a tentativa, universo, mas eu quero (e mereço!) muito melhor que isso.

sábado, 26 de outubro de 2019

Sexo frágil ou super-heroínas

Estive pensando nos esteriótipos que a sociedade criou para as mulheres. É óbvio que poderia passar horas fazendo uma lista de comportamentos bem específicos que exigem de nós no trabalho, em casa, na cama, enquanto mãe, irmã, esposa, namorada. Além dos padrões de beleza que nos impõem todos os dias, a juventude eterna que nos é cobrada e outras infinitas variedades que fazem do "ser mulher" algo tão complexo e muitas vezes sofrido.

Porém, hoje eu pensava especialmente sobre dois esteriótipos bem gerais: o que criaram para nós desde o começo dos tempos, o de sermos o SEXO FRÁGIL, em oposição ao que nós mesmas acabamos criando para nós, possivelmente para combater esse outro, o de sermos SUPER-HEROÍNAS.

O de sexo frágil sempre incomodou a maioria de nós, porque foi - ou é - usado pelos homens para exercer machismo sobre nós. A ideia de que precisamos de um homem para sermos felizes implica uma fragilidade, onde a mulher é emocionalmente e financeiramente dependente do sexo masculino. Ainda hoje, embora em uma escala bem menor, podemos encontrar mulheres que passam a vida procurando um marido, como se a única fonte de felicidade de sua vida fosse o casamento ou que um marido seria a garantia de uma vida próspera e feliz. Muitas famílias ainda endossam essa ideia estapafúrdia e se preocupam mais se a filha está encalhada do que com sua formação acadêmica ou saúde; e de repente encontramos várias mulheres infelizes, não-realizadas, presas a relações abusivas ou sem a menor condição de se impor por ser de alguma forma dependente de alguém do sexo masculino (normalmente o marido, às vezes o pai). Dito tudo isso, acredito que esse esteriótipo esteja caminhando para uma extinção - se tudo der certo! -, pois hoje muito se fala sobre independência feminina e quase todas nós já entendemos que independência é liberdade. Independente da mulher se considerar feminista ou não, quase nenhuma quer depender de alguém.

Para ser sincera, o esteriótipo de super-heroína anda me preocupando mais. Não me levem a mal, somos de fato heroínas. Não tem como não ser, diante de tudo o que passamos diariamente. Mas eu começo a enxergar várias consequências desse "apelido carinhoso" para as mulheres. Crescemos ouvindo, todo dia 08/03 em especial, que as mulheres são guerreiras, fortes, batalhadoras. Que aguentamos tudo, coisas que os homens nunca aguentariam. Vocês conseguem ver o perigo que isso representa na sociedade atual?

Não há espaço para a mulher ser quem ela é no momento em que ela quiser ou puder ser. Ou ela tem que ser uma flor delicada frágil ou ela tem que ser sempre a foda que tudo suporta.

Olhe para sua mãe. Qual a primeira palavra que você usaria para defini-la? Eu usaria FORTE. E aposto que muitos de vocês também.

Nossas avós foram da geração do sexo frágil. Casavam cedo, casamentos arranjados muitas vezes. A maioria não tinha emprego para ficar em casa cuidando dos filhos, o que as tornavam escravas de seus relacionamentos, aprisionadas a seu provedor, porque não teriam para onde ir ou o que comer, caso resolvessem se separar. Dessa forma, elas se submetiam a qualquer coisa.

As nossas mães vieram para abrir a caixa das heroínas. Jornada tripla de trabalho: trabalhando fora, cuidando da casa e dos filhos, estudando para conseguir algo melhor. Várias mães solteiras. Muitas começaram do nada e hoje tem uma condição confortável por conta dessa loucura de até se anular para conseguir o mínimo para sua família. Ela se superou, ela é uma guerreira. Admiram sua força.

Já pensou em quanto ela já sofreu calada por não querer que ninguém soubesse que ela também era fraca às vezes? Que ela queria ajuda, que tinha vontade de desistir? Nunca vimos as lágrimas que as nossas mães choraram escondidas. Quantas vezes perguntamos "O que foi?" e ela respondia "Nada não"? O fato é que elas precisavam passar a imagem de "sou forte o tempo todo, eu aguento qualquer coisa". Não seria essa uma outra forma de prisão?

E nossa geração também vem repetindo isso, de querer suportar tudo, porque as pessoas acreditam que nós somos guerreiras o tempo todo. Se alguma coisa da minha vida sair um pouco do padrão, então já começam a dizer que eu não estou bem. Não tem nada de errado comigo! Eu apenas sou um ser humano. Que tem momentos fortes e frágeis. Que gosta de ser vista como inspiração de força sim, mas que também precisa de ajuda e de uma palavra de carinho. Que tem vontade de jogar tudo para o alto, que comete erros e acertos. Que um dia é a determinação em pessoa e no outro dia não consegue levantar um dedo para nada. Simplesmente humana. Nenhuma guerreira invencível de Games of Thrones.

Me preocupa que desde pequena as meninas aguentem tudo. Que sofram caladas, que seja ensinado a elas que "se acostumam, vida de mulher é difícil mesmo"; que a sociedade diga que elas vão necessariamente amadurecer mais rápido que os meninos, porque é assim mesmo. ISSO NÃO É BIOLÓGICO. O amadurecimento das meninas vem antes porque isso é exigido delas desde cedo. Meninas tem que se comportar, fechar as pernas, falar baixo, ter a letra bonita, o material bem-cuidado, o caderno caprichado, as notas boas. Em que escala isso também é cobrado dos meninos? Em uma muito menor. Gente, acreditem: NADA É POR ACASO.

Quero que minhas alunas e minha sobrinha saibam que elas são fortes, sim, mas que elas não tem que aguentar tudo. Que elas podem pedir ajuda e que às vezes serão frágeis e que não tem nada de errado com isso. Que o ser humano é complexo e a vida não é mole e que não tem problema de vez em quando você se sentir uma merda. Isso não define quem você é e nem tira o seu valor.

Esse post é uma reflexão sobre em que nível estamos nos permitindo, enquanto mulheres, sermos um pouco de tudo o que todo ser humano é. A gente não tem que aguentar tudo nem ficar o tempo todo preocupada com a imagem que estamos passando. E nem depender de ninguém, para estar pronta para cair fora quando e se for necessário.

Nem sempre 8, nem sempre 80, mas todos os números do meio também. Você não é só frágil nem só forte. Você só é uma pessoa. Olha que loucura?!




domingo, 29 de setembro de 2019

Eu, você e seu viagra

Sabemos que o mundo não é feito para pessoas com necessidades especiais. Há pouca acessibilidade, muito preconceito e os direitos nem sempre são garantidos a essas pessoas. O que isso tem a ver com este blog? Segue lendo que você vai entender.

Nessa vida louca de Tinder a gente já viu de tudo. Alguns de nós já viveu coisas que até Deus duvida. A história de *Laila é uma dessas.

Laila conheceu *Hugo no Tinder e começaram a conversar. A primeira coisa que a encantou foi a conversa extremamente inteligente. O rapaz parecia ser conhecedor de tudo um pouco, a conversa fluía maravilhosamente bem e o interesse só foi crescendo. Sabemos que inteligência é afrodisíaco e Laila ficou impressionada com o rapaz. Logo ele a convidou para jantar e ela prontamente topou. Ele, porém, fez uma revelação no mínimo diferente: era cadeirante.

Qualquer outra mulher poderia ter se afastado nesse momento, afinal, é uma situação complicada e a maioria de nós seria sim afetada pelo preconceito. Mas Laia tinha um irmão cadeirante e conhecia muito bem a vida de uma pessoa com necessidades especiais. Sabia que enfrentaria alguns percalços, mas queria dar uma chance de enxergar além daquela particularidade.

O primeiro obstáculo foi quando eles chegaram ao estacionamento do restaurante. Ele pediu para que ela fosse no carro ajudá-lo a descer. Foi estranho esse ser o primeiro contato dos dois, mas apesar de ter ficado meio constrangida, ela foi lá ajudar. Sabia que não seria um encontro dentro da normalidade, vamos dizer assim. Só não me imaginava o quanto.

Quando chegaram ao restaurante, Laila disse que se sentiu absolutamente julgada. Era como se todos os presentes estivessem julgando-na por ter um date com um cadeirante. Sentia que todos os observavam, imaginando como aquilo iria se desenrolar.

Hugo era o mesmo cara interessante do app. A conversa era tão boa, que quando menos esperava, sem nem mesmo perceber, o rapaz estava do lado dela (no começo do encontro estavam um de frente para o outro). E quando se beijaram... o restaurante todo parecia ter congelado, incrédulo por ela ter beijado aquele cara.

O constrangimento não parou por aí, pois ele disse que precisava de ajuda para comer. Foram a um restaurante mexicano e muitas comidas precisavam ser consumidas com as mãos, mas ele alegou não ter força nas mãos para segurar as coisas. Ela, mortificada de vergonha, teve que ficar alimentando-o na boca, feito um bebê. Ele não se fazia de rogado, até os dedos dela lambia sem cerimônia nenhuma. Ta aí uma coisa que você nunca imagina viver em um primeiro encontro. Ou em qualquer momento da vida em um lugar público, for that matter.

Quando ela achava que as cenas estranhas daquele dia haviam chegado ao fim, ele pede para eles ficarem um pouco conversando dentro do carro. Começaram a se pegar e, de repente, esse homem cria 54 braços e ela disse que nunca viu uma coisa daquela. Ele estava subindo pelas paredes de tesão e sim, ele jurava que eles iriam transar. Ela disse que o freou e avisou que não ia rolar. Ele ficou indignado e disse que tinha certeza que ia acontecer. E que ele tinha tomado um VIAGRA no momento em que ela tinha ido ao banheiro, tamanha a certeza que tinha. Ela, obviamente, ficou totalmente chocada e disse que não entendia de onde vinha aquela certeza, sendo que o encontro havia sido tão tranquilo.

Tem alguns outros detalhes dessa história que eu omiti, mas acredito que o mais importante ficou aí.

Estou tendo muita dificuldade de concluir o post, porque foi tão absurdo que me faltam as palavras. Eu não sei de onde ele tirou a ideia de que eles iriam transar assim, sem nem consultá-la, sem estar rolando aquele clima sexual desde o começo. Eu não sei se ele achou que ela estava sendo legal demais com ele para não querer sexo depois. Difícil saber o que se passou na cabeça do ser humano.

Eu tenho desconfianças sérias de que ele também exagerou na história do "eu não consigo segurar a comida, me dê na boquinha".

Meninas, a verdade é... não estamos tendo escapatória. Tem louco saindo pelo ladrão. E eles andam com VIAGRA no bolso. Fiquem alertas!

domingo, 28 de julho de 2019

O maluco das lantejoulas

Com o advento das redes sociais, inauguramos uma nova era da paquera. Além dos apps específicos para isso como Happn e Tinder, o próprio Instagram se tornou um ótimo meio de conhecer pessoas novas. O problema é que na rede em que tudo parece perfeito, detalhes importantíssimos podem ficar mascarados e aí, my friend... prato cheio para esse blog aqui!

Hoje vou contar a história de um date de uma amiga (vou chamá-la de Lili) com um cara digamos, inusitado, que ela conheceu no Instagram. Vou chamá-lo de Paulo.

Após alguns dias de conversa no Direct do Instagram, Paulo convidou Lili para um cineminha, que ela prontamente aceitou.

Lili, sempre muito elegante, colocou seu scarpin vermelho, uma linda blusa, sua calça jeans preferida e passou seu melhor perfume. Linda e fina, pronta para causar aquela boa primeira impressão.

O universo já deu o primeiro sinal do desastre que aquilo seria quando Paulo disse que estava na porta de seu prédio e ela quase entrou no carro errado. Chegou a colocar a mão na maçaneta, quando recebeu uma mensagem dizendo que ele tinha errado o endereço. Quando finalmente ele chegou, ela ficou abismada com o carro do moço. Além de estar sujo, estava caindo aos pedaços. Para conseguir abrir a porta tinha toda uma técnica de segurar e empurrar para cima ao mesmo tempo, uma loucura. Como ela não tem carro, pensou "bom, eu nem tenho carro, melhor esse do que nada né?" e seguiu o baile. Difícil foi superar o look do rapaz: uma camiseta azul piscina com glitter, uma calça jeans rasgada, um cinto branco e uma jaqueta caramelo com lantejoulas.

Ao chegar no cinema, o cartão de Paulo não passou no momento de pagar pelo ingresso. Ele disse que era um problema com a bandeira e ela sugeriu que ele pedisse ao banco para trocar a bandeira do cartão, pois tinha passado pelo mesmo problema. Ele alegou que estava com o nome sujo. Felizmente, ele tinha sacado dinheiro e ela não teve que bancar tudo sozinha.

Na hora de comprar o lanche, Lili pediu uma pipoca com manteiga e coca-cola. Ele disse que estava de dieta e ela respondeu "mas eu não!".

Quando o filme começou, seu pesadelo continuou. Ele não a deixava comer e nem assistir ao filme direito, pois ficava jogando o corpo em cima dela. Colocou as pernas sobre as pernas dela e envolveu seu braço no dele (até ficar dormente), deixando totalmente sem movimento.

Ao fim do filme, ele foi deixá-la em casa. Quando ela tentou sair do carro, ele sentou no colo dela, agarrou-a e disse: "não vá, não me deixa! A lua está tão linda!". Lili ficou sem acreditar que aquilo de fato estava acontecendo, especialmente em um primeiro encontro. Conseguiu descer do carro e ir para casa após alguns minutos.

Alguns dias depois, ele a chamou para almoçar. Apesar do primeiro encontro horroroso, ela queria dar uma segunda chance, não queria julgar o rapaz por apenas uma saída.

Foram em um rodízio de galeto. Mais uma vez, o look dele foi um show à parte: calça jeans, regata com aquelas aberturas enormes nas laterais e um tênis vermelho.

Ao começarem a comer, ela ficou horrorizada com a cena: ele comia parecendo que o mundo ia acabar. A impressão é de que ele não sabia usar talheres, ficava gritando ( de boca cheia): "quero mais coxinha!"; suas mãos estavam tão oleosas que ele não conseguia segurar o copo e pedia que ela colocasse o refrigerante em sua boca. A boca também estava toda imunda, mas mesmo assim ele ficava pedindo que ela o beijasse.

Durante o almoço, ela descobriu que todas as tatuagens que ele tinha haviam sido feitas com ex-namoradas. Ele disse que iria cobri-las e que custaria 5mil reais. Ela sugeriu que esse dinheiro seria melhor gasto pagando o cartão e limpando o nome dele.

Após o almoço, Lili queria ir embora, mas Paulo disse que queria apresentá-la a melhor amiga - que estava na casa dele -, não sem antes dizer que ele tinha perdido a virgindade de boca com ela (sabe lá Deus porque ele achou que essa informação fosse relevante). Quando entrou na casa de Paulo, Lili descobriu que ele morava com mais 10 pessoas. A casa era imunda, tinha comida e roupa para tudo quanto é lado. Ele disse que precisava estender umas roupas no varal. Nesse momento, ela percebeu que todas as roupas dele tinham glitter e/ou lantejoulas. Foi um golpe duro demais para aguentar.

Ela suplicou para que ele a deixasse em casa. O irmão dele, que a propósito estava super bêbado, foi junto, deixando a volta para casa ainda mais terrível.

Depois de dois dates como esse, ela resolveu que realmente não tinha como aquilo dar certo e parou de respondê-lo. Até que um dia ele lhe manda uma mensagem desaforada dizendo que ela tinha acabado com a vida dele. Que ele sonhava com o casamento deles; que ele seria personal e ela ficaria em casa cuidando dos filhos. Quando você pensa que o sujeito não tem como ser mais tosco, ele ainda fecha com chave de ouro.

A lição que tiramos disso tudo? Cuidado com redes sociais. Antes de sair com uma pessoa, certifique-se de que o estio dela te agrada, que vocês tem afinidade e que ele não seja um maluco machista querendo te transformar em dona de casa. E se der, tente descobrir algo sobre os hábitos de higiene do rapaz, por que né? Beijo com óleo de galeto... ninguém merece!

segunda-feira, 13 de maio de 2019

A admirável arte do SIM

Eu tenho medo de casamento. Parece uma frase meio doida, mas hoje consigo identificar de onde vem minha dificuldade de estar em relacionamentos longos.

Eu tenho 32 anos e meu namoro mais longo foi de 1 ano e 8 meses, há mais de 10 anos. Meu padrão de relacionamento é me envolver com pessoas que tem poucas afinidades comigo e em 3 meses a validade da empolgação expirar. A ideia de "os opostos se atraem" é a maior balela, para mim. Eu sempre acabo buscando aquele elo duradouro entre a outra pessoa e eu, e nunca encontro. As poucas vezes que conheci pessoas com bastante afinidade comigo, eu me apaixonei perdidamente e acabei machucada por N motivos diferentes.

Depois do meu último namoro, procurei uma terapia. Era difícil acreditar que eu tinha enjoado de mais uma pessoa. Afinal, qual era o meu problema? Eu precisava saber!

Após algumas sessões de análise, de cavar fundo no meu histórico amoroso e familiar, a psicóloga chegou a conclusão de que eu supervalorizo a ideia de casamento. Que, para mim, o casamento é um negócio tão ideal, que eu dificilmente me verei na posição de me comprometer de forma tão séria.

Um dos maiores pavores da minha vida, é ter um relacionamento igual ao dos meus pais. É ser como a minha mãe e encontrar um cara como meu pai. Minha mãe lutou para salvar o casamento dela de todas as formas que pôde. Adiou até demais a separação. Eu vivi uma vida de pensar "a qualquer hora minha mãe vai desistir". Ela foi persistente, porque é assim com tudo. Mas a verdade é que meu pai não tinha o que ela queria para dar. O que ele tinha para oferecer era muito pouco para as expectativas dela e ela não percebeu isso no início.

Não havia companheirismo entre eles. Meu pai trabalhava de domingo a domingo e mesmo assim nunca tinha dinheiro. Minha mãe, como a maioria das mulheres, fazia jornada tripla, estava sempre à beira de um ataque de nervos. Raramente via os dois em um momento de intimidade, de romance. Eles nunca saiam juntos. Meu pai sempre dormia no sofá assistindo jornal e minha mãe sempre ia beber e dançar com os amigos.

Minha família nunca viajou junta. Aliás, as vezes que viajamos, éramos só eu, minha mãe e meu irmão. A gente não fazia nada os 4 juntos. Meu pai nunca foi muito família e minha mãe sempre sonhou com isso. Acho que dá pra diagnosticar onde o casamento deu errado, né?

O fato de eu não conseguir me envolver facilmente vem desse medo. Eu tenho dificuldade de acreditar que vai dar certo, e aí não dá. Eu tenho pavor de acabar me contentando com alguém que não pode me oferecer o que eu procuro em um relacionamento. Mas eu ainda não entendi como eu somatizo isso e acabo enjoando dos caras. E nem porque quando eu acho que está certo, a pessoa sempre me magoa. Muito menos como resolver isso. Talvez por isso (entre outras coisas) tenha passado 10 anos da minha vida questionando as coisas do amor.

Não é fácil vir aqui admitir minhas fraquezas. Eu vejo minhas amigas casando e acho lindo. O que admiro mais é a fé que elas tem no relacionamento que construíram. Faço piadinhas inapropriadas aqui e ali, mas no fundo é meu mecanismo de defesa, porque nunca tive algo parecido, que me desse a confiança de dizer um SIM tão transformador. Se tivesse como, pediria que elas me ensinassem, porque gostaria de saber como é estar tão confortável com alguém a ponto de saber que ele tem tudo o que você quer e necessita. É óbvio que elas tem dúvidas, mas eu apenas não me imagino tendo a coragem de dar esse passo.

Não é só o casamento dos meus pais, mas quantas histórias escutamos todos os dias? Traições, desconfianças, casamentos de fachada, casamentos assexuados, casamentos abusivos, casamentos infelizes em que as pessoas ficam acomodadas...

A verdade é que, com tanto exemplo ruim, acho bem admirável que elas conseguiam bloquear o barulho e confiar que os seus serão diferentes. E espero que sejam mesmo! Que nossa geração seja mais feliz, mais preocupada em resolver essas coisas, ao invés de ficar jogando para debaixo do tapete e se contentando em ser infelizes. Que cuidem mais um do outro, que se comuniquem melhor, que se abram mais. Quem sabe assim, como mais exemplos bons do que ruins, eu consiga acreditar que pode sim dar certo? Como eu quero!

Enquanto isso, continuarei chorando em casamentos, porque independente do que eu acredite ou não, ô negócio emocionante!

segunda-feira, 8 de abril de 2019

"Mas ela é mulher! É diferente!"

Era uma vez a história de um rapaz que se achava o comedor pica das galáxias e conheceu uma mina ponta firme que não tinha medo de assumir quem era e o que queria. Vamos chamá-los de Jenifer e Wesley, porque a zoeira não pode morrer.

Eles se conheceram no Tinder (porque né?) e começaram a ficar. Já de cara - como nós mulheres já estamos acostumadas - veio avisando que não queria nada sério. Mais que isso, que não acreditava em monogamia. Que só tinha relacionamentos abertos. Que gostava de frequentar casas de swing e praticar menage a trois. Perguntou se ela aceitaria um relacionamento aberto. Ela, que já tinha feito um pouco de tudo dessas loucuras sexuais, sabia que não fazia sentido para ela relacionamento aberto e disse que então não teriam nada.

Eles continuaram ficando, sem muito compromisso, aquela velha história que já conhecemos também. O rolo estava durando bastante tempo, mas sabíamos que Wesley não queria relacionamento fechado. O que ele não esperava, era que ela fosse uma mulher que aproveitava bem as oportunidades que a vida trazia.

Um belo dia, na casa de Jenifer, ele a convidou para ir a uma festa no dia 12. Ela disse que não poderia, porque iria viajar com um boy.

Ele, muito chocado, perguntou:

- É sério isso?
- Sim, ué. A gente não tem nada. Eu não gosto de mentir. Estou te falando a verdade. Tenho um crush em SP, ele está vindo para Goiânia, vou encontrá-lo e passar alguns dias com ele.
- Você só pode estar brincando.

Wesley sentia como se uma faca estivesse o partido de ponta a ponta. Mas como assim ela ia viajar com o outro homem? E ainda dizia na cara dele, sem nenhuma vergonha ou pudor?


Essa história é baseada em fatos reais e pode nos fazer refletir sobre aquele velho conceito de 2 pesos e 2 medidas, que também estamos bastante acostumadas. Essa não foi a primeira vez em que eu ouvi a história de um cara que queria relacionamento aberto, mas não estava pronto para ele. Que não acreditava em monogamia - para ele. É mais um caso de gente que fala "mas ela é mulher. É diferente."
Você dá a premissa da liberdade para o outro, mas quando o outro (a outra, no caso) aproveita o que lhe foi concedido, você não sabe lidar.

Hoje mesmo estava assistindo uma entrevista do Fábio Porchat sobre a nova série que ele estreou mês passado, chamada "HOMENS?". A temática é: homens se descobrindo machistas e tentando lidar com isso e com as mudanças que estão acontecendo no mundo moderno.

Ele citou uma cena onde, um dos personagens trai a esposa com várias mulheres. Posteriormente, descobre que sua mulher tem um amante e se indigna. Quando os amigos o questionam sobre seu não-direito de se revoltar (devido a sua própria traição), ele diz: "mas é diferente!". É diferente por que?

Uma vez, um amigo chegou em minha casa aos prantos. Descobriu uma conversa mega suspeita entre a esposa e um cara no Facebook. A xingou de vagabunda, duas-caras, fingida, traidora, mentirosa. Eu nunca tinha o visto tão magoado, tão nervoso, chorando tanto. Alguns dias depois, eles resolvem dar uma nova chance ao relacionamento. Pouco tempo depois, em nome de um novo relacionamento construído com honestidade, ele abre o jogo: havia traído a esposa duas vezes. Uma delas, durante a gravidez.

Agora me explica... que direito ele tinha àquela reação tão descompensada? A xingar a mulher de tudo quanto é nome, se sentindo ferido, quando ele tinha feito coisa pior? É tanta hipocrisia que não dá para defender!

Eu já vi meu pai defendendo meu irmão e sua mania de trair as namoradas porque "é difícil para ele, vocês tem que entender. Ele é músico, é muito assédio em cima".

E por aí vai! Tenho certeza que cada vez parágrafo que você leu te trouxe a memória de algum homem usando 2 pesos e 2 medidas para analisar uma mesma atitude de acordo com o sexo da pessoa que agiu.

A lição que fica é a seguinte: NÓS NÃO SOMOS IGUAIS, MAS TEMOS DIREITOS IGUAIS. O mundo mudou, acompanhe. Não existe mais passaporte exclusivo para homem fazer o que quer e a mulher ficar sendo a santa, a submissa, a que aceita ser cagada na cabeça. Pare de achar que você tem direito/coragem de fazer alguma coisa e a mulher não. Pare de achar mulher de roupa curta na rua bonita, mas a sua não. Pare de querer comer todo mundo, mas achar que mulher que dá para todo mundo é piranha. Apenas PARE. A balança é uma só, cherrie. Seja ela com um homem ou uma mulher em cima.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Como o machismo afeta os homens - mais um motivo para você lutar contra ele

8 de março. Um dia que muitos (quase todos) os homens devem achar um saco. Várias mulheres passam o dia todo postando mensagens feministas, pedindo respeito, salários justos, e essas coisas que eles já ganharam só por ter um pênis no meio das pernas.

Já escrevi alguns textos sobre a importância e a função do Dia Internacional da Mulher, mas hoje resolvi tratar do machismo sob uma outra perspectiva: a perspectiva masculina. Afinal, toda mulher já provou do gosto amargo do machismo, então não é novidade para nós. Mas e se você nunca tiver parado para pensar como o machismo afeta a vida dos homens? É disso que quero falar hoje.

Homem, leia a lista abaixo e veja quantos itens você marca:

- Já tive vergonha de chorar na frente de outras pessoas
- Já deixei de usar roupa cor-de-rosa
- Já saí pagando de pegador para os amigos mesmo sem realmente estar pegando ninguém
- Já fugi de ter algo sério com uma menina que eu gostava
- Acho que se apaixonar/gostar de alguém é uma furada/coisa de gente fraca
- Repito por aí "pego, mas não me apego"
- Já escondi gosto musical ou cinematográfico porque tal gosto é considerado feminino
- Tenho dificuldades de expressar seus sentimentos
- Acho que terapia é coisa de mulher e gente maluca
- Tenho dificuldade de admitir meus erros e/ou pedir perdão
- Achou uma atitude machista de um amigo tosca, mas não teve coragem de chamar sua atenção/discordar.
- Sinto prazer na região anal, mas finjo indignação se minha parceira chega perto.
- Já fui incentivado a trair minha namorada/esposa


Poderia passar o dia escrevendo coisas que os homens deixam de fazer ou acreditam ou escondem porque os amigos vão chamá-lo de "mulherzinha", de "viadinho" ou coisa parecida.
Como se ser mulher ou gay fosse alguma coisa negativa (mas isso é assunto para depois!).

Como professora, enxergo isso desde cedo. Os meninos não querem fazer time junto com as meninas, porque acham que elas são inferiores. Os meninos tem dificuldade de expressar o que sentem, porque os ensinam que "macho que é macho não chora". Os meninos fingem que odeiam rosa porque é cor de menina. Que odeiam boneca, porque é coisa de mulherzinha. Fingem que não gostam de desenhos que são protagonizados por meninas, por melhor que eles sejam. Tem dificuldade de dizer que admiram atletas mulheres que são bem sucedidas num esporte predominantemente masculino.

Imagina... como seria bom poder sentir o que quer sentir, chorar se quiser chorar, sem ninguém te julgar fraco por isso? Não seria incrível não ter que esconder sentimentos, gostos e prazeres por puro medo de ser zoado? Seria maravilhoso poder procurar ajuda profissional quando você estiver se sentindo perdido, sem achar que psicólogo é só para o sexo feminino ou gente maluca! Como seria ótimo ter liberdade para corrigir uma atitude boçal de um amigo sem medo de represálias! Gostaria que todos vocês pudessem expressar admiração por qualquer pessoa, independente do sexo!

Homens, o machismo afeta a todos nós de maneira negativa. Sendo uma pessoa boa, sensata, justa, você já entraria nessa luta conosco, mas agora eu te dei mais motivos para se unir à nós!

Convido a todos os cidadãos decentes a dar as mãos e entrar nessa guerra com a gente! Quanto mais gente estiver junto lutando pelo mesmo objetivo, mais efetivos são os resultados?!

What do you say?

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Sobre levantar bandeiras e manter a coerência

Ontem tive uma conversa muito interessante com duas amigas e fiquei pensando muito nas bandeiras que levantamos. Estou dividida entre o que eu penso e o que elas sugeriram. Continuar levantando a bandeira e entender que ela não me imuniza de cair em ciladas que a vida às vezes nos prega ou não levantar tanto a bandeira para que, quando eu cair nessas tais ciladas, não me julgue tanto e nem deixe que as pessoas me julguem tanto também?

Esse blog é a minha maior bandeira. Através dele eu dei força para a voz das mulheres, para o empoderamento delas, para o direito de se comportarem como quiserem em suas próprias vidas. Ajudei a expor as coisas que nos incomodam no sexo oposto. Expus feridas da sociedade. Histórias de amor, histórias de horror, histórias de comédia. Tudo para levantar a bandeira do feminismo da melhor forma possível, aplicada às situações vividas por mim e pelas pessoas próximas a mim no dia-a-dia. E eu gostaria que as pessoas entendessem que falar de tudo isso, defender tanto essas ideias, não me torna imune a sofrer por amor. A cair na lábia de um mulherengo. A acabar reproduzindo algum comportamento ou fala machista sem querer. Acabei criando uma imagem de mulher forte auto-suficiente (as duas coisas não estão interligadas, por mais que possa parecer. Gostar da sua própria companhia não significa não querer ninguém na sua vida), eu percebo. As pessoas (e eu mesma) criaram certas expectativas em relação ao meu comportamento, especialmente quando se trata de relacionamentos.

No primeiro ano de blog, quando ainda éramos 5 mulheres escrevendo aqui, fizemos o concurso "Babaca do Ano". Um peguete meu venceu (empatado com o ex de uma das meninas). Alguns meses depois, eu apareci namorando com ele. Escrevi o post sobre o assunto, explicando o que tinha acontecido e como eu tinha me sentido. Mas o que mais me lembro sobre aquele post foi a quantidade de comentários me julgando, dizendo que eu falava tanto em não cair na lábia dos caras e acabei caindo.

A verdade é que bem mais fácil vir aqui e falar quando você não está apaixonada. Quando você consegue neutralizar o cara e perceber o veneno antes de se apaixonar. E eu sou boa nisso. Mas nem sempre isso acontece. E eu também, mesmo tendo conseguindo desviar de uma quantidade considerável de pessoas babacas, às vezes caio em tentação e me lasco. Quando estou apaixonada, algumas vezes nem eu consigo seguir meus próprios conselhos, também fico cega. E da última vez levou um tempão para enxergar o quanto eu estava me desvalorizando. E me machucando. Até que um dia eu consegui e caí fora.

Depois de muito refletir sobre o assunto, cheguei à conclusão de que essas bandeiras fazem parte de quem eu sou, da minha história, dos meus princípios. Eu tenho certeza que já ajudei muitas mulheres a se empoderar, a tomar coragem, a se amar mais, a entender que elas precisam primeiro ser felizes sozinhas, para depois serem felizes acompanhadas. Eu tenho certeza que já ajudei algum homem a melhorar seus comportamentos machistas e refletir mais sobre como anda tratando as mulheres por aí. Eu ter caído em tentação algumas vezes não invalida minha luta. Aliás, ela me lembra quem eu sou e no que acredito. E aí quando eu precisar sair dessas ciladas, eu acesso dentro de mim tudo o que eu preciso para tomar as rédeas da minha própria vida! Tenho uma amiga muito sábia que diz: o que conta é o que você faz 90% do tempo. E 90% do tempo eu consigo ser o que minha bandeira prega! Então, em 2019, nada de bandeira a meio mastro: quero essa linda lá no topo, brilhando no céu!