quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Sobre relações abusivas

Em quase 10 anos de blog nós abordamos assuntos variados: traições, mancadas masculinas e femininas, histórias de amor, ilusionismos, machismos, feminismos, cantadas, histórias de balada... olhei para trás e percebi que um assunto absurdamente importante não estava aqui.

Hoje eu quero falar de relacionamento abusivo. Graças a Deus, nunca estive em um, mas conheço várias pessoas que estiveram. Algumas acompanhei de perto, outras ouvi histórias. Depois de ouvir mais uma história mega power inacreditável, decidi que não tinha mais como adiar esse assunto tão sério.

Primeiramente, existe uma coisa em comum entre basicamente todos os relacionamentos abusivos: ele começa perfeito. O cara é um verdadeiro gentleman, conquista seus pais, te dá presentes, te elogia o tempo todo, melhor amigo da sua família, acima de qualquer suspeita. “Um cara do bem”, costuma-se descrever.

O tempo passa e pode ser que ele comece a implicar com algumas coisas. Suas roupas, maquiagens. Seus amigos e os lugares que frequenta. Fica com raiva e dá show de ciúmes na presença de qualquer pessoa do sexo oposto (ou às vezes nem precisa ser! É comum ciúmes de amigos, familiares e acreditem, uma amiga relatou ciúmes de CACHORRO). Começa a querer te controlar. Você passa a pedir desculpas por tudo, inclusive quando não está errada. Tem medo de dizer “não” para ele e começa a fazer coisas contra a sua vontade – inclusive no sexo -, só para não contrariá-lo.

De repente, ele te faz se sentir burra e louca. Tudo o que você fala é digno de piada, ou de escrutínio, afinal de contas “você não sabe de nada”. Se discorda dele ou reage a alguma coisa que ele diz, está ficando louca e histérica. Mansplaining, mansinterrupting e gaslighting. Tudo junto e misturado.

Ele tem dificuldade de vibrar com suas conquistas e duvida constantemente da sua capacidade profissional ou talento. E de outras mulheres também, soltando sempre piadinhas machistas como “dormiu com quem para conseguir esse cargo?”.

Depois de passar o começo do namoro te enchendo de elogios, ele começa a te diminuir. Faz você acreditar que ele é o único que te aceita, que te aguenta e que ninguém mais vai querer você se ele te largar. Mina sua auto-estima fazendo você crer que passa por isso porque merece.

Ele não te bate, mas te segura com força ou soca mesas e portas para descontar a raiva de você. Ele grita o tempo todo, te xinga, te desvaloriza. E às vezes chora, dizendo que você o fez perder a cabeça.

Depois das brigas e discussões, você sempre se questiona se aquilo é normal de todo casal, mas quando alguém pergunta, tende a relativizar as ações dele, dizendo que “no fundo, ele é uma boa pessoa e me ama”. Ele te envolve totalmente na conversa, nos argumentos, e você acaba achando que ele tem razão e que quer te preservar.

Até que um dia ele te bate. Depois pede perdão de joelhos, diz que nunca mais vai voltar a fazer isso. Que se excedeu. E acontece de novo. De novo. E começam as ameaças. Você diz que vai à polícia e ele ameaça te matar.

Nem todo relacionamento abusivo chega ao ponto de agressão física, é importante manter isso em mente. E isso não significa que não seja um! Quis fazer uma espécie de ordem cronológica do que pode acontecer se não conseguirmos identificar antes de chegar ao extremo da violência física.

Às vezes quem está de fora fica absolutamente angustiado tentando ajudar. Devemos lembrar que não adianta você sacudir a pessoa e dizer “será que você não enxerga o que está acontecendo?” (já fiz isso!), porque não, a pessoa não enxerga. O bagulho é desenvolvido para deixar a pessoa completamente cega. Por isso, a maneira de ajudar é estar sempre por perto, de olho para detectar qualquer sinal de agressão, dando conselhos, tentando fazer a pessoa chegar às próprias conclusões, mas sem atacar como se a pessoa fosse burra. Ela não é burra, ela está sofrendo abuso psicológico e não consegue compreender isso. A auto-estima baixa faz com que acreditemos em inúmeras inverdades a nosso respeito e é isso que o abusador faz: ataca seu amor próprio para que você desconfie de si mesma e de seus próprios julgamentos. Uma amiga descreveu “como uma droga, você tem crise de abstinência, é viciante. É estranho.” Deve haver uma vontade da pessoa de sair dessa situação. Não adianta querer arrancar a pessoa da bolha onde ela está inserida. Ela só sai quando consegue ver que aquilo não faz bem.

Para ilustrar melhor, vou colocar um dos melhores vídeos que a Internet já viu, “Não tira o batom vermelho”, da JoutJout:

https://www.youtube.com/watch?v=I-3ocjJTPHg

(o Blogspot continua me trolando e não consigo validar os links. Mas vale a pena copiar e colar no seu browser. Esse vídeo tem que ser visto!!)