quinta-feira, 20 de setembro de 2018

"Vale night é coisa rara. Você me entende, né?"

Chegamos aí, levantando a cabeça depois de mais uma série de murros em ponta de faca, aquela velha fossa que a gente precisa viver, mas como boa sagitariana que sou, vale aquele lema né "Quem tá quebrado é o coração, não a boca".

A gente está sofrendo, mas está com o copo na mão e beijando bocas, porque afinal de contas não há tempo a perder!

Acontece que até mesmo quando a gente não tá caçando confusão, a confusão vem até a nós. Nem quando a gente quer sossego e só dar uns beijos, a gente tem paz.

Eis que semana passada, logo após acabar com 2 garrafas de whisky de um bar, eu e mais 5 amigas fomos parar na boate do momento aqui em Brasília. Através de uma conhecida fomos parar até no camarote e toda hora aparecia bebida de graça, ou seja, todo mundo pode imaginar o grau em que ficamos.

Soltinhas que só, começamos a flertar com um carinha aqui, outro ali, quando conheci um rapaz interessante. Conversa vai, conversa vem, fomos parar um nos braços do outro. Aquele vuco vuco, quando vi estava entrando no carro dele e a gente se pegando. Olhei para trás e vi uma cadeirinha de bebê. Perguntei se ele tinha filho, ele disse que sim, um filho de 3 anos. Perguntei se ele morava com os pais, ele disse que sim, mas que já estava mais que na hora de sair. Concordei e seguimos a vida. Continuamos ficando até o dia raiar, mas por incrível que pareça acabamos não trocando telefone.

Lembrei que ele tinha me dito que já tinha ficado com uma das minhas amigas na adolescência e comentei com ela. Ela perguntou o nome dele, eu falei e ela, bem espantada, me disse: "Mas ele não é casado?" e mandou print do instagram dele.

Eu fui fuçando, fuçando e pensando: "bom, se separou foi agora esse mês, porque tem foto com a esposa mês passado aqui". Resolvi fazer o teste. Adicionei e aguardei ele aceitar, pensando que se ele realmente estivesse casado, não iria me aceitar. Mas... ele aceitou.

Primeiro ele ficou bem chocado quando o adicionei e pediu meu telefone. Quando eu dei meu telefone, ele quis me ligar. Disse que precisava me pedir desculpas.

"Por não ter me dito que era casado?", perguntei. E ele confirmou. "Vale night é coisa rara. Vc me entende, né?" Oi? Não entendo, não!

Mais tarde ele realmente me ligou falando mil coisas. As frases sempre começavam com "Não é querendo justificar o que eu fiz, mas..." E os "mas" dele eram os mais sem noção. Porque eu tenho certeza que não foi a primeira vez que ele chifrou a esposa, com a qual ele tem uma relação "muito boa e estável" - palavras dele - e com quem ele está casado há apenas 4 anos. Ele estava extremamente confortável com a situação, tanto sábado quanto ao telefone. Sabia exatamente o que estava fazendo e não demonstrou muita preocupação com o fato de ficar comigo em um local público, nem dos arranhões que foram para casa com ele e nem da possibilidade do meu brinco ter caído no carro dele.

Eu disse que ele tinha que ter me contado, que eu jamais teria ficado com ele se soubesse que era casado. Ele veio "ah, aquele ambiente, vi uma ruiva tão linda, fiquei com vontade mesmo". E ainda deu em cima de mim de novo no final da ligação insinuando que iria vir aqui pegar umas aulas particulares de inglês. Ou seja... não é um vacilo isolado. Se eu desse corda, ele ia querer me manter de amante.

Nessas horas eu fico me perguntando o que se passa na cabeça de uma pessoa dessas. Porque assim, eu nem sou dessas que acha que traição é algo imperdoável e não sei o que lá, mas a naturalidade com a qual esse cabra enfrentou a situação me assustou. Casamento recente, filho pequeno e zero consideração com a pessoa com a qual divide a vida. E ainda engana uma segunda pessoa que acaba participando da cachorrada sem querer.

Quando a gente fala que a coisa tá feia e que está difícil ter esperança no sexo masculino (heteros!), tem gente que acha que é exagero. OLHA O TIPO DE PESSOA que vem parar na sua vida sem você nem sequer se esforçar. É, cara... a cada dia só aumenta minha vontade de ser lésbica. Pena que nunca nos deram escolha. Se dessem, aposto que sobrariam poucas mulheres hetero para contar história, viu?