quarta-feira, 22 de abril de 2015

Sobre o efeito de futilidades

Verdade seja dita: money matters. Verdade seja dita de novo: brains matter even more.

O que eu quero dizer é: se você não tiver dinheiro para rachar uma conta no restaurante e não tiver inteligência o suficiente para levar uma conversa decente, você vai ter umas dificuldades a mais para se relacionar.

Estamos em um momento de fitchatos. Eu me cuido, faço dieta e malho, e não há nada de errado com isso, mas o negócio chegou a um ponto onde você com certeza conhece alguma pessoa que só fala de academia e percentual de gordura e leva marmita quando tem um aniversário numa pizzaria e se recusa a brindar ao aniversariante porque cerveja tem muitas calorias e dá bucho. É a era da futilidade - não me venha dizendo que é apenas saúde, porque não é! - onde você tem que ser sarado ou será ridicularizado. Também é a era do "você é o que você tem", ou seja, vista roupas de grife, tenha o carro do ano e ostente por aí.

Tudo isso para contar a história da nossa heroína de hoje, que está acostumada a ter homens aos seus pés, a ficar com homens lindos e ricos, e no último feriado conheceu, durante uma viagem, um rapaz musculoso, surfista, moreno, alto, viril, que se encantou por ela e resolveu vir fazer uma visitinha para sua nova conquista no feriadão. Eles passaram semanas combinando e contando os dias para se ver! Tinha sido tão bom, a química era perfeita, eles estavam loucos para repetir a dose!

Ela cuidou do todos os detalhes! Reservou um ótimo hotel, comprou champanhe, organizou encontro com os amigos para apresentar o novo futuro amor... Era só esperar ele chegar!

Tudo parecia estar em seu devido lugar, só que alguns detalhes colocaram o novo romance em cheque.

Para começar, estavam em um restaurante e simplesmente não conseguiam conversar. Os assuntos que ele sabia discutir eram apenas dois: academia/dieta e baladas. Todo o dinheiro que ele ganha, gasta em roupas de grife, academia, suplementos e no carro rebaixado. Na hora de pagar a conta, ele também não deu sinal nenhum. Ela pagou sozinha, imaginando que na próxima ele assumiria o controle.

Assim foi durante todo o feriado. Uma roda de pessoas conversando sobre diferentes assuntos, e ele sempre falando dos suplementos que toma e das baladas frenéticas que ele frequentava. Indo a restaurantes e festas caras, bebendo whisky e Ciroc, sem contribuir com um real sequer. Na hora de fazer check-out no hotel, ele só dividiu o valor das diárias depois que ela sugeriu. Ele reclamou do preço e ela ainda teve que gastar latim convencendo-o de que era justo que os dois dividissem os custos do hotel.

Resumo da ópera: não adianta ser o mais sarado dos caras e ser bom de cama. Ninguém aguenta gente chata que só fala da mesma coisa o tempo todo, que não tem um assunto profundo, que não tem conteúdo. Ninguém aguenta também sair com uma pessoa que não quer pagar nem a própria cerveja. Gasta 500 reais de suplementos por mês, mas acha caro pagar 250 reais num curso de inglês, para melhorar o currículo. Gasta todo o salário em roupas de grife, mas tem a cara de pau de dar uma de João Sem Braço ("esqueci a senha do meu cartão") na hora de rachar uma conta num restaurante. Investe grana pesada em som e rebaixamento para carro, mas dá chilique na hora de pagar a diária de um hotel - o que de fato deixa a ser uma questão de dinheiro propriamente dito e se torna uma questão de hombridade, de decência, de caráter, afinal, a questão não era que ele era pobre, mas sim que queria comer e beber do bom e do melhor, frequentar os melhores lugares, mas sem colocar a mão no bolso - leia-se "queria se aproveitar dos outros".

Needless to say that... ela nunca mais quer ver o cara na vida, né?

Sim, vivemos em um mundo onde a aparência e os bens parecem ser muito importantes e decisivos, mas no final das contas, o que importa de verdade é o conteúdo. É o que a pessoa tem na cabeça e no coração. Sinceramente? Fico aliviada em saber que a futilidade tem data de expiração! A humanidade ainda tem salvação!