quinta-feira, 13 de março de 2014

Duas pessoas, um pensamento

Em um episódio de Sex and the City, Carrie e suas amigas recebem um convite para uma festa de noivado que dizia "duas pessoas, um pensamento".
Ela logo solta "se eles são duas pessoas e só têm um pensamento, algo está errado". E não é que é?

Ultimamente tenho observado o comportamento de certos casais, especialmente casados (principalmente recém-casados) e a conclusão é devastadora: é possível que você se relacione com uma pessoa e de repente perca toda sua identidade? Pior, além de perder sua identidade, você assuma a identidade do outro?

Para mim, esse sempre foi o tipo de relacionamento mais assustador e fadado ao fracasso. Aquele relacionamento onde você se anula para viver a vida do outro, ter as convicções e princípios do outro e onde é pecado mortal ter diferentes opiniões em questão de futebol, política, religião ou gastronomia. O casal gosta das mesmas coisas, faz as mesmas coisas, torce pro mesmo time, vota no mesmo candidato, odeia os mesmos políticos, rejeita o mesmo tipo de comida. O primeiro sinal disso é o uso constante da palavra NÓS onde uma pessoa normal usaria EU.

- Qual é o SEU prato preferido?
- Nós gostamos de pizza.
- Em que candidato VOCÊ vai votar?
- Vamos votar no Lula.

COME ON!

E o mais irritante é quando a pessoa era totalmente aberta, moderna, até meio porra-louca e casa com um conservador radical - o que por si só consiste numa bizarrice, devo dizer. De repente, a pessoa que era amiga dos homossexuais, saía pra balada com as amigas sozinha, dançava até o chão e até mesmo cogitava a traição, começa a ser homofóbica, votar nos Republicanos e ser fã nº 1 do Papa Bento XVI.

Diz-se por aí - e acredito piamente - que o segredo para um relacionamento bom e duradouro é saber ceder. Saber abrir mão de certas coisas, em certos momentos e não querer impor a sua verdade sobre a do outro, sempre. Ainda assim, esses dias, um amigo meu que está prestes a casar teve que ouvir de um conhecido recém-casado a seguinte frase:

- Cara, vou te dar um conselho sobre casamento. O único jeito de funcionar, é se a mulher for 100% submissa ao homem.

WTF? Eu sei, eu sei, tá lá escrito na bíblia - no VELHO Testamento, by the way - e lá vem as carolas jogarem isso na minha cara católica. Acontece, que também está escrito que o homem deve respeitar e amar a sua mulher, e quando alguém te respeita e te ama, ela acolhe sua opinião, ela cede, ela não te quer submissa à ela. Ser submisso a alguém é completamente contraditório à ideia do amor entre duas pessoas iguais. Somos submissos aos nossos pais enquanto eles pagam nossas contas porque dependemos deles, e somos submissos a Deus porque... bom, porque Ele é o todo-poderoso; mas submissão a uma pessoa na mesma posição que a minha, não faz o menor sentido.

Não tenha medo de expressar sua opinião porque ela é diferente da do seu marido/namorado. Ele se apaixonou por você e não por um espelho dele. Acatar tudo o que ele diz, faz e gosta pode até parecer uma boa ideia no começo, ele vai achar que está tendo uma influência positiva sobre você, mas acredite, em pouco tempo isso vai te levar ao fracasso. Ninguém gosta de gente sem personalidade. Lá no fundo, ninguém gosta de gente submissa, nem mesmo os conservadores. Os questionadores são mais interessantes e se você disser amém para tudo o que seu marido/namorado faz, logo ele vai perder o interesse em você. Why bother? Você é igualzinha a ele, não há novidades nisso.

Vejam bem, não estou dizendo que você tem que discordar de tudo no seu relacionamento e transformar tudo em briga e fazer do seu lar um verdadeiro campo minado. Se vocês têm a mesma opinião em várias coisas, DE VERDADE, que ótimo! Facilita muito as coisas não ter que entrar em discussão por tudo! Só estou fazendo um apelo para que não percamos nossa identidade quando nos encontramos em um relacionamento. Antes de sermos casal, somos indivíduos, e devemos ser respeitados - e nos respeitar! - como tal.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Dia Internacional da Mulher e as conquistas que ainda não alcançamos

Mesmo estando um pouco atrasada, gostaria de falar algumas coisas sobre o Dia Internacional da Mulher.
É recorrente encontrar pessoas falando das coisas que já conquistamos, mas ouço pouco sobre as coisas que ainda não conquistamos.
O mais louco disso tudo é que nós conquistamos coisas grandiosas como o direito ao voto, o direito à educação, o direito de dirigir, de usar calças, entre outros; porém, o que aparentemente parece ser mais fácil de atingir, tem sido uma batalha diária: o direito de existir como mulher e ser respeitada e compreendida como tal.
Do que eu estou falando?
Eu estou falando de não ter que passar por situações como essa:

- Eu estou passando na rua, normalmente, quando à frente encontra-se um grupo de homens. Um grupo qualquer. Pode ser de garis, de pedreiros, de estudantes, de advogados.
Quanto mais eu me aproximo, mais vergonha eu sinto, e mais abaixo a cabeça, porque sei que eles vão fazer algum comentário sexual, alguma piada de duplo sentido, vão me assediar de alguma forma - até mesmo com um BOM DIA cheio de malícia - e vão me fazer me sentir como se eu tivesse escolhido o caminho errado a seguir. Como se eu tivesse que ter passado pelo outro lado da rua ou dado a volta para não ter que cruzar com eles. Aquele momento em que o grupo para de falar ou fazer o que estavam fazendo, enquanto eu passo. Aquele momento em que eu me sinto um pedaço de carne, passando por um bando de leões. Aquele momento em que não sou respeitada como um ser humano comum, mas violada como uma coisa qualquer.

- Eu estou com calor e saio com uma roupa curta ou decotada. Os homens do local se acham no direito de me agarrar à força e tentar passar a mão em mim quando me encontram. Se acham no direito de julgar o meu caráter, porque mulher que veste roupa curta, é, "obviamente uma vadia".

- Estou solteira e fico com quem eu quiser. Não sou levada à sério porque, é claro, se eu fico com várias pessoas na minha solteirice, sou - novamente! - uma vadia que não pode ser apresentada pra mamãe. Ele, que fica com várias enquanto solteiro, é, claro, o garanhão do pedaço.

- Decido não me casar (ou demoro para casar) e ter filhos mesmo assim. Sou julgada como problemática, estranha ou encalhada porque não me contentei com as porcarias que o universo me mandou.

- Falo palavrão, bebo cerveja, saio sem maquiagem ou salto, uso cabelo curto. Sou mulher-macho ou sapatão, porque mulher tem que ser delicadinha, falar baixo e beber coquetel de frutas.

- Não sei cozinhar. Ouço frases como "Que tipo de mulher é você?" ou "O que você vai fazer pro seu marido quando você casar?"

- Faço alguma besteira no trânsito. Escuto "Tinha que ser mulher" ou "Mulher no volante, perigo constante" ou "Lugar de mulher é no fogão"

- Trabalho muito e bem, contribuo com os lucros da empresa, dou idéias brilhantes para o crescimento da mesma, mas ganho menos que o meu colega do sexo masculino que faz o mesmo trabalho.

- Sou uma mulher casada e vejo meu marido gordo, fedorento e desarrumado exigindo que eu emagreça e fique sempre bonita e cheirosa.

O Dia Internacional da Mulher não pode se resumir a flores na porta do supermercado ou um pronunciamento da Dilma na TV. O Dia Internacional da Mulher foi marcado por lutas contra o preconceito e assim deve permanecer. Se você quer parabenizar uma mulher, comece amputando atitudes machistas. E que comece por você, mulher machista.
Para que nenhuma de nós e principalmente as futuras gerações, fique presa nessa teia de preconceito eterna e que possam viver com a dignidade que merecem!